Uma criança na minha vida (*)
Pelo menos a equipe humana. Por precaução de mãe de adolescente, separei um espaço na casa e no coração para o namorado de Gabriela e amizades que me conquistassem depois dos enta. O time animal que começou com o shih-tzu bipolar Dalai, hoje com dois anos, há um ano ganhou o reforço do Cocker Gandhi, um cachorro completamente ligado na tomada, talvez com transtorno de hiperatividade. E com a experiência de dois caninos totalmente elétricos, que se espremem no sofá disputando carinho, a promessa feita a Gabriela de que a turma animal não aumentaria.
E se acaso você, leitor-nauta, chegasse ao meu barraco, encontraria mãe e filha, acompanhadas dos caninos Dalai e Gandhi, vivendo de amor. Com toda a rotina organizada (que isto é a minha cara), quartos determinados, funções divididas, os armários tomados pelos alimentos comprados semanalmente somente para a subsistência do quarteto. Alguns aparelhos de lazer. Sem excessos e sem restrições. Apenas o necessário para viver.
Nos primeiros dias de dezembro, um pedido da sobrinha Camila para que eu cuidasse de sua filha, minha sobrinha-neta, Lohana, de oito meses, por um período temporário, alterou a minha vida toda esquematizada e planejada. Um dos exemplos do retrato da nova família brasileira, Camila, 22 anos, não mora com o pai da Lohana, e foi chamada às pressas para trabalhar. Sem tempo para fazer a adaptação em creche, deixa a pequena Lohana todas as manhãs na minha casa.
E eu me sinto ajudando outra vida a viver. Assim como penso que fiz com a Gabriela, e pretendo seguir nesta jornada, ainda que, ela com 15 anos, às vezes, dispense o meu auxílio. E quando ouço as risadas da Lohana ecoando pelo corredor, antes das 9 h, na sua chegada; quando ela me olha e parece entender o carinho que lhe deposito; quando ela chora e o meu afago maternal lhe acalma; quando canto para Lohana dormir, desafinadamente, as mesmas e antigas canções de ninar que embalaram os sonos infantis da Gabriela; e quando ela passeia pela casa acomodada em meus braços; redescubro a vida.
Mas não há nada mais reconfortante neste recomeçar com um novo ser do que ouvir de Gabriela uma afirmação que me emociona, porque é um atestado de que errei pouco na sua criação e um aval para continuar educando. Sempre que vê a pequena Lohana sossegar no meu colo, seja para dormir, brincar ou comer, a minha Gabriela diz; “mãe, tu nasceu para isto”.
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