Sem meio termo (*)
Sei, por exemplo, que na vida podemos ter vários amores e que, como disse o poetinha Vinícius de Moraes, que sejam todos eternos no tempo exato da sua duração. Não existem garantias e nem contratos. Exceto o comprometimento moral de cada um. Mas é impossível esperar que todas as pessoas tenham esta compreensão de agir com lealdade de preservar a sobrevivência do outro. E os riscos estão por aí. Viver é um risco. E amar também. Só que um amor mal resolvido dói tanto, sangra demais, não cicatriza em definitivo e machuca eternamente.
E poderia escrever colunas e colunas dramáticas ou efusivas sobre as teorias que desenvolvi nestes 20 e poucos anos (hehehehehe) de relacionamentos. É evidente que elas carecem de um amparo científico e metodológico. Não arriscaria afirmar que 76,5% dos relacionamentos não seguiram o conselho do poetinha. Aliás, em pesquisas, sempre fiquei curiosa em saber como se sentiam os desprezados números fracionados. Sim, porque é complicado dizer que João amou 4,5% e Maria 12,3%. Estranho amar em pedaços.
Não, leitor! Não estou amando e muito menos o namoradinho de uma amiga minha, até porque namorado de amiga minha, para mim, é homem. É muito falsa a afirmação em contrário. Aprendi, com os relacionamentos anteriores, que podemos sim viver na nossa própria companhia, que isto não é solidão, que nós não precisamos pular de uma relação para outra desenfreadamente, só para dar um atestado de vivacidade. Existem pessoas que vivem todos os dias ao lado de uma pessoa e são completamente sós. Deploravelmente solitárias.
Minhas indagações sobre as relações humanas cresceram com a entrada da minha filha Gabriela no complicado mundo dos relacionamentos entre homens e mulheres. E com a minha responsabilidade em lhe fornecer ajuda sem rancores, sem falsas constatações, sem o peso indelével da experiência adquirida. Porque, no amor, não existe caminho seguro, nem sentimento quantificado, nem a quase felicidade e nem meio termo.
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