Noites de Insônia (*)
Sabem aquela história do feitiço virar contra o próprio feiticeiro (a)? Pois, o tal filme não me trouxe o sono merecido. Ao contrário, gerou uma nova película (gostaram?) na minha memória, do tipo “valer a pena ver de novo outra vez”. E quem disse que seria possível desligar a minha TV interna para dormir depois? Nem pagando! Para não escrever o que pensei e ser deselegante com os meus 20 leitores. Não adiantou o remédio eletrônico e já não poderia aumentar a dose dos calmantes. A saída foi apelar para os cafés, um banho revigorante, um corretivo para disfarçar as olheiras e seguir para a reunião no sindicato.
Mas o aspecto de cansaço não me abandonou o resto da jornada. Afinal, depois que desliguei a televisão de verdade, fugiu o sono, o sossego, a certeza e a tranquilidade. Instigada pelas protagonistas do filme de 1900 e 80 e poucos, ao lembrarem que existe um elo entre mãe e filha que nada é capaz de camuflar ou sepultar, relembrei tantos momentos decisivos que tive com a minha rebenta Gabriela Martins Trezzi e não contive as lágrimas. Nas cenas da memória, a primeira palavra, o caminhar ao completar um ano, a creche, o meu irmão vestido de Papai Noel, os indícios de autonomia. Ai, meu Deus.
Porque é que tem que ser assim? Passar tudo tão rápido e a gente só perceber que o tempo é traiçoeiro depois que ele já se fez pretérito e não permite mais que se volte atrás? Deveria acender uma luz vermelha na testa da mãe toda vez que fosse auspicioso congelar uma travessura, uma molecagem, um sorriso ou uma descoberta dos filhos pequenos. Para mais tarde, quando eles somem na balada, no cinema, no shopping, no turno inverso ou na gingana, você pudesse apenas buscar nas prateleiras aquele momento do passado.
Hoje, preciso me acostumar com o colega (?) que telefona e rouba minutos da noite da Gabriela. Ser atenciosa com a amiga que lhe exige de 10 em 10 minutos. Solicitar um encaixa na sua agenda de final de semana. Encaminhar um projeto de programa para as duas, nem necessita de dois dias, pode ser só um sábado. Tá bom, eu me rendo, serve parte do sábado. E rezar, baixinho, para que ela nunca fique pesada (leia-se aqui tentada para práticas do mal, drogas, bebidas e o escambau). Não sou uma mãe caretona, mas espero que ela tenha inteligência para viver a sua adolescência com tudo na medida certa.
E o filme, você deve estar se perguntando, meu caro e assíduo leitor? Pois, ele falava destas pequenas bobagens que deixamos escapar, das inúmeras vezes em que não declaramos o nosso amor, intenso ou não, das divergências das mães com as filhas e do seu umbilical relacionamento. O filme reforçava como é importante aproveitar os momentos de ternura, de trocas, de afetos. E, no final, mostrava como são vazias, tristes e inúteis as pessoas que dispensam estes carinhos. Ah, vai me dizer se uma manteiga derretida como eu seria capaz de conter as lágrimas. Mais remédios e chás e incensos para dormir!
(*) márcia fernanda peçanha martins, publicado no site coletiva.net
Marcadores: Colunas
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial