Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

18 novembro, 2008

Como tudo recomeçou

A coleção de Luli (*)(**)
Intrigante meio de comunicação social em que se vive e se imagina que todos os seus profissionais são desprovidos de sentimentos e convivem habilmente com a frieza. Afinal, se para se correr atrás de uma boa notícia, se criar uma propaganda genial ou conseguir um bom relacionamento com alguma empresa, por vezes, se finge um distanciamento do mundo que pulsa, na realidade, jamais conseguimos nos desligar de tudo que punge, tange, sufoca, inunda, transborda, respira, transpira. É a falsa frieza da classe. A perda prematura e irreparável do gerente de mídia da Paim Comunicação e vice-presidente do Grupo de Mídia do RS, Luis Fernando Peçanha Martins, com 37 anos, falecido no dia 12 de maio, é a prova mais contundente de que o meio de comunicação social é onde residem os mais nobres sentimentos, com o perdão das demais profissões.
Luli, como era conhecido no meio publicitário, antes de passar pela Standard, SL&M e terminar nas planilhas de mídia da Paim, sentou-se nos bancos da Engenharia Civil da UFRGS, quando percebeu que aquele mundo não tinha nada a ver com ele. E alguém que tenha convivido com o Luli por mais de um dia duvida disso ? Não. A vida dele era o efervescer do meio publicitário, a corrida pela inserção do anúncio no veículo certo e com o melhor preço possível, o troféu obtido como mídia do ano no Salão da Propaganda (que eu mesma noticiei), o agito dos cafés da Padre Chagas, da Tobias da Silva, da Luciana de Abreu e suas redondezas, bairro que abriga a Paim, a preocupação em chegar na hora exata nas reuniões e a busca pela perfeição.
Profissional competente, respeitado e admirado por todos (clientes, agências e veículos), Luli tinha uma característica que contrasta com a suposta frieza com a qual costumam rotular os profissionais dos meios de comunicação social. Ele colecionava amigos. Assim, simples. Como quem faz coleção de incensos, imãs de geladeiras, carrinhos antigos, tudo isso aí, não tem nada a ver com ele, é claro. Não, Luli tinha que ser diferente e colecionar amigos. Eram tantos, tão verdadeiros, fiéis e companheiros que o transformaram em uma das pessoas mais ricas do mundo. A verdadeira riqueza de uma pessoa só pode ser medida pela qualidade de seus amigos. E eles são inquestionáveis e estão todos guardados no coração dos familiares do Luli, no lado esquerdo do peito, com certeza.
Como irmã do meio, conheci o Dedé (apelido familiar) antes do Luli e foi paixão à primeira vista, pois somente uma pessoa como ele seria capaz de dormir ouvindo-me desafinar cantigas de ninar (ou será que ele desmaiava ?). Mais tarde, conheci o Dedé amigo e companheiro, sempre pronto a oferecer o ombro. Enquanto atuava como setorista de publicidade e propaganda na Economia de Zero Hora, no início da década de 90, passei a respeitar o profissional e conheci o Luli. Com o fim do casamento de minha mãe, conheci um filho exemplar. E, com o nascimento de minha filha Gabriela, do qual ele era padrinho, conheci um anjo, que hoje brilha no céu estrelado da minha bela cidade.
Por isso, amortecida um pouco pela ausência de seu riso fácil, de suas novidades ao pé do ouvido, de suas idas no parque com a Gabriela, pela saudade de seus inúmeros telefonemas para a casa da mãe à noite, dos seus e-mails na minha caixa postal, de sua falta no almoço de domingo, tomei coragem para escrever como quem conhece a pessoa e o profissional. Não é fácil separar as coisas. E, agradecer o apoio do pessoal da Paim e de todos os amigos (e não vou citar ninguém para não correr o risco de esquecer alguém). E, dizer, se isso pode deixá-los mais tranqüilos, que ele já está cumprindo sua nova missão no mundo espiritual (compartilhávamos também da mesma religião). E, tenho certeza, que ficará feliz se a sua família conseguir manter intacta a sua coleção de amigos.


(*) com este texto, publicado na revista Press, em junho de 2003, um mês após a morte do meu irmão, que voltei a escrever
(**) escrito por Márcia Fernanda Peçanha Martins, 42 anos, jornalista, irmã de Luis Fernando Peçanha Martins. assim saiu assinado na época

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