Temos todo o tempo do mundo (*)
Pavimentava o trajeto rodoviário de volta para Porto Alegre na sexta-feira à noite, depois de três dias debatendo a importância da democratização dos meios de comunicação social, em Ponta das Canas, Florianópolis (SC), listando, mentalmente, as prioridades da minha agenda na semana. Resumir e escrever sobre a mobilização necessária para a Conferência Nacional de Comunicação, a ocorrer em Brasília, no início de dezembro; iniciar a revisão do volume II de livro “Antologias à Flor da Pele”; fazer as compras do supermercado; olhar os temas da minha filha Gabriela Martins Trezzi; visitar a Lohana, sobrinha-neta...
No exercício mental de organizar as tarefas, toda vez que a Marcinha Camarano, colega no encontro preparatório, amiga e companheira de sindicato, tentava cochilar, alheia a minha tagarelice, descobri que faltavam dias na semana. E para meu espanto organizatório, nem listara todos os compromissos inadiáveis. Precisava de uma brecha para a reunião do grupo que prepara a festa da turma da Famecos, a Saudosa Maloca. De um tempo para responder emails; atualizar meu blog; levar Gabriela na médica; os guris (caninos Dalai e Gandhi) no veterinário e abraçar uma amiga aniversariante do Correio do Povo.
Depois de um saudoso abraço na filha, fui dormir e deixei para outro dia a preocupação com as tarefas, ou melhor, para o domingo, já que no sábado à tarde tinha reunião de diretoria no Sindicato dos Jornalistas. Um simples telefonema interrompeu a calmaria matinal do sábado. Com ele, a notícia de que um grande e estimável amigo, de uma importância que nem sei dimensionar e não preciso atestar ao próprio, não passara bem e faria uma bateria de exames na emergência fria de um hospital. A reunião ocorreu, meu time jogou, o domingo chegou e fiquei a pensar no estrago que fazemos com a nossa saúde.
Não sei se é mal de jornalista. De afobados. De geminianos (ele não é de gêmeos, ora). De estressados. De insaciáveis. De responsáveis. Mas existe uma categoria de ser humano, e me incluo aí junto com meu amigo, que sempre aceita a nova e urgente tarefa; topa o desafio da emergência; promete entregar ontem o trabalho que recebeu hoje. E, assim, dizem, vivem ao máximo e deixam sua saúde em último plano. Até que a pressão aumenta, o coração dispara, a dor de cabeça se intensifica e o nosso corpo não mostra mais a mesma disposição para atos corriqueiros e banais (não é o que estão pensando, heim!).
Mesmo de licença-saúde, atropelei um pouco meu repouso domiciliar para resolver pequenas pendências; afivelar alguns projetos; lubrificar grandes idéias e quem sabe mudar o mundo. Que ainda alimento este sonho! Teimosa! Mas, o sinal vermelho emitido com o abalo na saúde de meu amigo me deu um alerta de precaução. Pega leve Marcinha. Não é você que planejou ver o sucesso profissional de sua filha? Não é você que ainda busca um PAITROCINADOR para publicar um livro de crônicas? Não é você que já se hospedou na UTI de um hospital em condições alarmantes?
Então, colega Márcia! Vá mais devagar. Você é importante. Só que o mundo continuará na sua marcha globalizada e capitalista, mesmo que você não proteste. Nem tudo será como nas novelas e você nem sempre viverá feliz para sempre ao lado da pessoa que escolheu, sendo ou não a protagonista. E nem mesmo seu time imortal tricolor rumo à Libertadores sentirá sua falta na arquibancada se você faltar a um jogo. Desacelera. Relaxa. Tenha minutos de reflexão. Fique zen. Durma depois da novela “Vale a pena ver de novo”. Leia muito. Contemple. Tome um banho relaxante. Permita-se. Não entregue os pontos no primeiro tempo.
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