Lohana nos meus braços (*)
Após o almoço, no pit stop que fizemos na casa da minha mãe para um cafezinho, praticamente todos já haviam segurado a pequena Lohana, brindando também os seus quatro meses naquele dia. Pois, a Lohana, filha da Camila, irmã do Rafael, que seria minha sobrinha-neta, não fosse eu adotá-la como neta, ainda não experimentara meu colo naquele dia. Chegara, portanto, a vez da vó Márcia. E com a Lohana acomodando seu pequeno rosto bochechudo no meu ombro, com os olhinhos acompanhando qualquer quadro, enfeite e móbile ao seu alcance, iniciei o trajeto de um lado a outro do corredor, o ir e vir entre os quartos.
Com a mesma desafinação que fazia desmaiar de sono e enjoo os meus irmãos menores, o Rafael e a Camila, e a filha Gabriela, entoei a velha canção de ninar. Passados quase 15 anos do nascimento da Gabriela, tive a impressão de que nunca deixei de cantarolar “se essa rua fosse minha, eu mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhante, só prá ver meu bem passar”. De trás para frente, forçando o refrão, pulando estrofes, embalei Lohana nos meus braços. Abaixando o tom de voz, naquele estágio que só as mães alcançam e indica a rendição do rebento. E dentro do bosque que se chama solidão, as palavras calando, sumindo....
Assim, ao chegar o entardecer, acalantando a filha de minha sobrinha, deixei o pranto correr, e sussurando pedi que o mundo fique melhor, que todos possam ter educação, habitação e saúde, que ela conheça um Planeta mais verde, um País mais justo e um universo mais solidário. Exatamente como eu fazia com a mãe de Lohana, a Camila no colo, a minha pequenininha que hoje é uma mãe de família. Um filme com rodízio de personagens. Não sei se contaminada pelo cheiro inesquecível de inocência que Lohana emana ou se pelo aroma imaginário da primavera, passei o resto da semana em estado de graça.
Nada se compara ao milagre da vida. Nada é tão revigorante como rever o passado assim tão nítido. Nada como um pedaço de ser no nosso colo para nos fazer esquecer da inflação, da violência, do emprego, da conta e de todo o mundo lá fora.
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