Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

17 maio, 2008

Sentimentalóide no inferno astral

Não vou falar de inferno astral, no qual estou ardendo desde 9 de maio, porque alguém de má índole (e esta espécie prolifera!) poderia pensar que estou lembrando o dia do meu aniversário para ganhar presentes. Uma calúnia em se tratando de geminiana da “gema” por todos os poros, ascendentes, descendentes, antepassados, sol, lua e planeta. Nem vou lamentar a falta de grana, de free, de espaço verde e de concreto, porque quando a gente quer ser contra consegue mesmo. Não quero me queixar da ausência do abraço, do carinho, do abrigo, do amigo, e até mesmo da vontade de sentir cansaço.
Totalmente fora da casinha quem pensou que eu iria blasfemar contra a disparada nos preços dos hortigranjeiros (viu, Jorge aprendi). Mas, não dá para passar batido que é praticamente um horror o preço da alface, uma simples verdura com quantidades razoáveis de vitamina A, C e minerais como cálcio, fósforo e ferro, que disparou de preço. E também disparou das prateleiras da minha geladeira. E se enganou redondamente quem supôs que eu seria saudosista e admitiria que sinto muita falta do rancho mensal que o mesmo Jorge citado acima pesquisava e publicava nas páginas da Economia da Zero Hora.
Mas, devo confessar que tenho acumulado algumas saudades nos últimos dias e não sei se pode creditar toda a culpa ao tal inferno astral. Quem sabe aquilo que nos outros chamamos de velhice e em nós classificamos como amadurecimento de vida? Compreenderam a sutileza? De repente, acordei com saudades de músicas com conteúdo (início, meio e fim) e sem semelhança com qualquer fruta. E põe som na caixa aí que quero escutar Chico Buarque, Elis, Cazuza, exagerado que eu amei Tom Jobim, Rita Lee, João Gilberto, Luis Melodia, Ana Carolina, Nelsinho Coelho e Nei Lisboa.
Um desejo incontrolável de sentar no mesmo banco da mesma praça e comprar um picolé daquele mesmo sorveteiro que assistiu ao primeiro beijo que eu dei num namorado. Uma tentação de comprar balas gasosas ou azedinhas e levar para devorar na matinê do cinema Vitória, no abraço da Borges com Salgado Filho e Andrade Neves, onde eu deveria servir de “chá de pêra” para a minha irmã mais velha e seu namorado. E, ai quem me dera, pudesse descascar laranjas após o almoço e sentar debaixo da árvore do quintal da minha casa na infância, saboreando gomos sem agrotóxicos e brincando com os quatro cachorros.
Sabe-se lá que bicho me mordeu! Talvez saudades do meu irmão Dédi, que faleceu no dia 12, deste mês, há cinco anos. E que era meu porto seguro, meu ombro amigo, meu lado esquerdo e direito, meu irmão, camarada, compadre, grande publicitário, piadista, meu maior fornecedor de emails matinais desejando bom dia. Queria tanto que ele soubesse como a afilhada dele, a minha filha Gabriela Martins Trezzi, está linda, maravilhosa, amada, carinhosa, com boa saúde, ótimas notas no colégio e companheirona. Mas, certamente, ele acompanha e guia os nossos passos.
Dédi, se você cruzar por aí, não sei em que plano, com uma menina de seis anos, chamada Isabella, morta ao ser atirada do sexto andar do apartamento onde residiam seu pai e a madastra, diga-lhe que a mãe dela, Ana Carolina de Oliveira, chorou muito no Dia das Mães e espalhou emoção nacional ao conceder entrevista falando sobre os seus sentimentos. Será que foi naquele dia o início explosivo de tanta saudade? Uma mistura. Gabriela linda e saudável passando o domingo comigo. A mãe de Isabella, que também era bonita e faceira, chorando descontroladamente a ausência definitiva da filha.
Danem-se aqueles que não gostam de sentimentalóides! Eu não sei fugir das minhas emoções, que estão sempre à flor da pele. Nem mesmo fingir que não me importo que não vejo as injustiças, que a maldade das pessoas não me dói e que a morte gradativa da ternura, toda vez que uma criança tem sua sorte apunhalada não me derruba. E isso não entra na conta do inferno astral.
márcia fernanda peçanha martins (publicado no site www.coletiva.net em 14/05/2008)

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2 Comentários:

Blogger Letícia Losekann Coelho disse...

marcinha
te achei!
Lindo teu texto... saudoso que dá gosto. As músicas... Bom eu graças a meus pais cresci escutando boa música pq as de hoje vou te contar!
E as balas.... sinto falta das azedinhas e do chocolate lolo que hoje é milkibar! kk

22 de maio de 2008 às 01:05  
Blogger Emanuel Gomes de Mattos disse...

Márcia,
recém saído do inferno astral, mais uma vez reconfirmei que ele existe. Pior, no dia do aniversário um dente partiu-se ao meio, quando me dei conta tava sem metado do meu meia-esquerda, que foi sem nenhuma explicação.
Antes do dia fui um suplício, tudo pra trás, como convém.
Não adianta lutar contra algo que tá impregnado, que vai acontecer. O que me ajudou foi a série publicada na ZH ensinando o povo gaúcho a se suicidar.
Ainda bem que não tem mais bonde em Porto Alegre. Teria sido o maior causador de suicídos entre nossos recordistas gaúchos.
Pena que a ZH não examinou pra ver se os finados estavam no inferno astral.
Enfim, Márcia, na dúvida, olha pros lados até 9 de junho (é o dia, né?).
Beijão.

30 de maio de 2008 às 22:04  

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