Mulheres à flor da pele (*)
Nada que atrapalhasse o meu compromisso informal de ajudar a minha amiga Soninha Porto, administradora da comunidade, no kit que levaremos para Bento (material escolar, poesias impressas, folhas e o que mais se fizer necessário). Aproveitei que mãe e filha precisavam conversar e desliguei de tudo. Deixei um pouco os versos sem rimas. E, na companhia da minha filha Gabriela Martins Trezzi, resolvi ir ao cinema e andar um pouco pelo shopping. Cada dia mais compreensiva, Gabriela aceitou de pronto o meu convite e a minha sugestão para ver o filme “Mulheres...o Sexo Forte”.
Uma cena simples, apostando apenas no desempenho das atrizes (Candice Berger e Meg Ryan), que protagonizam respectivamente mãe e filha no filme, ajudou-me a entender melhor a potência do amor maternal e a admiração que um rebento pode nutrir pela mãe, desde que o sentimento seja sempre incentivado. Nem cabe aqui descrever o momento em que Candice, toda enclausurada com curativos, após uma plástica rejuvenescedora, recebe a visita de Meg no hospital. As duas, no ápice da fragilidade, reforçam o amor recíproco. Mais tarde, em situação diversa, é a vez de Meg viver momento semelhante com sua filha.
Nas últimas semanas, ocupada com a preparação para Bento e uma militância discreta para a minha candidata a prefeita de Porto Alegre (a fim de não interferir no bom momento de minha condição física), enfrentei um período de debilidade na saúde de minha mãe. Ao anoitecer de meu plantão com ela, sozinhas no quarto do hospital, senti que, mesmo sonolenta com a medicação para dor, minha mãe percebeu que alguma decisão importante atrapalhava meus pensamentos. E ao simples toque de minha mão na sua, com um aperto firme para quem convalesce, ela me transmitiu segurança.
Tudo ocorreu como no filme. Momentos em que gestos valem mais do que mil palavras. Quando se conhece o interior de uma pessoa e enriquecemos com isso, um simples olhar pode trazer a resposta que buscamos. Pois, a minha Gabriela, sem saber da declaração de amor que foi mais uma vez selada entre a mãe e a avó dela, repetiu, antes de ver o exemplo de Candice e Meg, o mesmo gesto comigo. Como se fosse uma corrente daquelas que a gente recebe nos emails e deve repassar, em 15 minutos, senão perde o amor, a casa, o dinheiro, amigos, emprego...(ufa), a Gabriela demonstrou, novamente, sua solidariedade comigo.
Pois tudo isso apenas reforçou a convicção de que no domingo, ao confirmar o voto para prefeita de Porto Alegre na urna eletrônica, mais do que uma escolha para administrar a cidade nos próximos quatro anos, estarei dizendo como eu desejo o futuro de minha filha. Se Gabriela optar por morar sempre em Porto Alegre, como eu, merece uma cidade limpa novamente, sem lixo acumulado nas esquinas; transitar pelas ruas com calçamento regular; caminhar pelo bairro que nos abriga com lâmpadas acesas nos postes de iluminação; uma frota de ônibus com o padrão de qualidade que conhecemos.
Com a certeza da escolha certa e consciência limpa, e amparada no colorido da militância que invadiu as ruas nas últimas duas semanas, posso pensar que Gabriela vivenciará a mesma cena de reconhecimento do amor maternal de sua filha no futuro. Porque eu sempre votei para que Porto Alegre estivesse na frente. Porque eu não quero pedir perdão, mais tarde, pela falta de espaço, de abraço, de escolhas, de folhas. E, quero, ao contrário do que diz a música “Aos Nossos Filhos”, de Ivan Lins e Vitor Martins, fazer a festa com Gabriela, sem precisar lavar a mágoa, a alma e a água.
(*) márcia fernanda peçanha martins, publicada no www. coletiva.net
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