Natal
A fantasia do Papai Noel sentado no trenó guiado pelas renas nas estradas cobertas de neve, a imagem das decorações natalinas que invadiam as grandes lojas de departamentos e o interior das nossas residências, os cartões que a gente recebia com as felicitações de boas festas. E a lista de presentes que se entregava para os familiares com mais posses. O papel misterioso, quase já rasgado de tão amassadinho, com o nome do amigo secreto da firma. Os planos para a ceia da noite do dia 24 e a troca de presentes antes da meia-noite. Cenas de Natais passados e que hoje trazem o cheiro mofado da saudade.
Motivos não faltam para explicar o sumiço de símbolos e fatos tão intimamente ligados à magia do Natal. O mais rápido é dizer que a culpada é a economia e suas oscilações, responsável pela arquitetura de um Natal enxuto e decorado conforme as finanças de cada família e com minguados penduricalhos nas lojas de Porto Alegre. Ficam livres do julgamento os shoppings que cada dia inovam mais nos enfeites de Natal. O resto é culpado. Mas e o espírito natalino também sofreu uma redução em decorrência de maus desempenhos da economia?
Sempre tive um problema de relacionamento com o Natal. Dona de colocar rótulos, classifico a data como melancólica, triste, confusa de emoções. Cumpria os rituais todos e gostava de observar e ajudar na preparação de cada detalhe com afinco. Tanto na minha fase solteira, casada ou agora “livre, leve e solta”. Mas nos dias 24 e 25 de dezembro, um sentimento de impotência, até de falsidade com a mensagem de renascimento atrapalhava as minhas festas. Como se um cenário montado às pressas e sem a mínima preocupação com a tal da solidariedade fosse modificar o Natal daqueles que nada tiveram ou têm.
Não entendo, e acho que nunca entendi, o Natal como data de trocas emocionais. Não compreendo que, a exemplo de tantas outras datas, mesmo que reconheça a sua importância católica, seja determinado ter sentimentos em dias específicos. Se Natal está relacionado com renascimento de amor, de afetos e de ternuras, porque representar estas emoções com a troca de presentes uma vez ao ano? Que se faça Natal todos os dias! Seria mais humano, mais digno e mais católico. Sempre repugnei hora marcada para amar, ser solidário, abraçar, chorar. Sentimentos não são controlados. Sim espontâneos.
Você pode fazer Natal, por exemplo, ao não fechar o vidro do carro na sinaleira para o menino, maltratado e maltrapilho que pede algo. Você deve ter mais paciência com os velhinhos, que não vestem roupa de Papai Noel, nas filas dos bancos, das lojas, nas páginas da vida. Você não precisa ser caridoso com seu porteiro, zelador e entregadores somente perto do Natal. Nem sair para distribuir presentes em vilas e favelas só em mutirões natalinos. Experimente. Deixe a preguiça de lado. Junte uns amigos. Faça uma entrega mensal. Com certeza, você se sentirá bem parecido com o Papai Noel dos natais passados.
(*)márcia fernanda peçanha martins
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