Pelo Dia Internacional da Mulher (*)
Joana bateu o ponto às seis.
Seu relógio mostra que já é hora,
de fazer fila e esperar a condução.
Emburrada pega o ônibus da vez,
e consegue um lugar sem demora,
no trajeto, alimenta-se de ilusão.
Joana é morena de boca carnuda.
Seu corpo remexe num requebrado,
de deixar muito homem embasbacado.
Nem sempre se mostra desnuda,
tem vergonha de tanta marca e arranhão,
mas vai ficando ali, quase sem ação.
Joana trabalha em mais de um turno.
Cedinho da manhã, arruma os filhos.
E no tanque, lava roupa aos quilos.
Apronta a comida para o noturno
e sai correndo para faxinar, limpar,
passar, enxaguar, engomar, cozinhar.
Joana é bonita de olhar expressivo.
Seu quadril sobe a vila num rebolado,
de deixar muito guri todo excitado.
Nem sempre ri de um jeito abusivo,
tem medo de tanto roxo e tanto raspão.
e continua ali à noite levando sopetão.
Joana é linda. Joana é feminina.
Joana é mais uma que escreve a história
de muitas mulheres que tem na memória
o som de uma surra que não termina.
Joana quer um fim.
mas não muda o começo.
Re-escreve seu folhetim
e aceita o mesmo cortejo
sempre que se oferece
sem pudor ao seu desejo.
(*) márcia fernanda peçanha martins
Marcadores: Poemas
2 Comentários:
Bela homenagem a todas as Joanas que existem por aí.
Certamente elas estão também, entre as que citei no meu post de hoje. As MARCIAS, inclusive!
Um abraço!
É. Este poema não é recente. Mas, ainda, é a dura realidade de mulheres de distintas classes. A Marcia agradeceu no teu post.
boa semana
abraço
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial