Displicente (*)

Quero te ver chegar assim

de uma maneira displicente
mas esbanjando insinuações
e já se enroscando em mim.
Sem nenhum traço de timidez
me seduzindo maliciosamente
rodopiando mãos e pernas
no meu corpo que não resiste.
E se oferece despudoradamente
ao teu toque, carinho e feitiço
como se ali naquele momento
nada mais existisse lá fora.
Despindo-me com o teu olhar
inspiro, respiro e transpiro
ao esboçar de ais e gemidos
nem percebo o tempo a passar.

(*) márcia fernanda peçanha martins

Poemetinho (*)

Carrego no andar cambaleante
muitas dores retidas do passado
como se cada dia não fosse nada
mais do que um asterisco no calendário.


(*) márcia fernanda peçanha martins

Gavetas da inocência (*)

Nas gavetas das memórias

deixei empilhados sentimentos

com os quais não sei mais lidar.
Mas que guardam histórias
das idas, vindas e dos momentos
que ainda me fazem questionar
ritos de derrotas e vitórias.
Às vezes num ritmo frenético
reviro tudo, vasculho e remexo
procurando em dedicatórias
assinadas nos papéis amarelos
onde escondi toda inocência.


(*) márcia fernanda peçanha martins

Último gole (*)

Devagar eu bebo
até ver o fim da taça
e sorver o último gole.
Com o gosto suave
e aveludado do Merlot
passeio pela tua língua.
A tua boca me engole
e deixa que eu desbrave
pedaços do teu corpo.
Nada segura o desejo,
a pureza morre à míngua
quando o tesão explode.

(*) márcia fernanda peçanha martins