Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

30 janeiro, 2009

Efeitos especiais de Porto no verão(*)

Nada melhor do que não fazer nada, só pra deitar e rolar com você! Os versos acima de Rita Lee e Roberto de Carvalho, na música “Mania de Você”, poderiam muito bem ser adaptados ao desejo de todo cidadão normal de alcançar uma doce e malemolente (aqui no sentido de inobjetividade) vida. Mas, a meta só pode ser realizada pelos meios honestos (já ouviram esta palavra não é?) depois de muito trabalho, acúmulo de dinheiro na poupança, um prêmio de loteria, sei lá! Haverá então um tempo em que corpo e mente viva em sintonia e a preguiça possa acomodar-se na rede embaixo da melhor sombra do quintal.

Como esse tempo nem sempre chega para muitos e cheiro a mofo no armário, é da natureza do ser humano buscar alternativas e semelhanças. É mais ou menos o que sinto em Porto Alegre nos meses de janeiro e fevereiro. Vazia no verão, porque aqueles que podem fugiram para as praias ou rumaram para opções mais frias, a cidade sorridente e nem aí para os 35 graus derretendo nos termômetros oferece ao morador insistente, parceiro de fé, camarada de todas as estações, uma sensação de paz e tranqüilidade (sem trema). E Porto Alegre Abandonada no Verão é tudo de bom.

Detalhes tão pequenos de nós dois, por exemplo, mostram como o trânsito flui melhor nas vias de movimento intenso, em janeiro e fevereiro, nos horários de pique. Algo que pode concorrer aos Efeitos Especiais do Oscar. Nem mesmo uma obra da Prefeitura, programada justamente para períodos de férias a fim de não tumultuar muito o trânsito, abala a circulação, e vejam só: o trânsito circula como tem que circular. Sem redundância: circulando. E o mais estranho ainda é que se você, infeliz morador dos arredores da Independência, tem um compromisso na Zona Norte não precisa sair de casa uma hora antes.

Munida do meu kit básico “Eu resisto às liquidações”, experimentei ir a um shopping center no sábado à tarde, dia e turno em que a gente pega uma senha pro estacionamento, faz fila prá utilizar os poucos elevadores ou arrisca esperar que a única escada rolante em funcionamento deixe uns poucos degraus para você. Vocês não vão acreditar! O shopping center tornou-se um local então agradável. Estranhamente, o ar condicionado funcionava, havia muita mesa à disposição na praça de alimentação, os pratos correspondiam aos desenhos nos cardápios e os seguranças caminhavam com jeito de quem dá segurança.

Para ficar acolhedor, o shopping precisava passar por dois testes. A limpeza dos banheiros e o perfeito funcionamento dos cinemas. Inacreditável. Os banheiros cheirosos, limpinhos e sem a cara emburrada das funcionárias. Sim, porque uma vez o banheiro tava imundo e elas prá lá e prá cá com aquelas vassouras cabeludas, que enfia a parte de baixo na água, dá uma centrifugada e volta para a limpeza. Perguntei na maior solidariedade para elas o motivo de tanta sujeira. “Vocês sujam a todo momento e ainda tem a cara de pau de reclamar”, disparou a funcionária, parece-me que um pouco colérica.

Os cinemas mereciam uma coluna à parte. Tantas coincidências boas. As filas para comprar os ingressos não davam a volta no shopping, as pipocas estavam quentes, a sessão começou na hora, não ficou, um segundinho só sem som. Coisa impressionante mesmo. Claro que sempre tem aquele sem noção que leva a nova namorada, o filho dela, o amigo do filho e mais uma tia velha, e chega quando o filme já começou e fica no meio da escada decidindo onde irá enfiar todos lado a lado. Atrapalhando quem chegou na hora. Ou aquele que não desliga o celular a ainda atende e berra: “ah, tou no cinema”.

Porto Alegre pode parecer uma senhora melancólica no verão, em TPM às vésperas de completar 237 anos no dia 26 de março. Mas estende seus parques, shoppings, cinemas, suas ruas e praças, seus cafés e os bares da Cidade Baixa e do Moinhos, a Redenção e o sol caindo poeticamente para aquele que não quer fazer nada e ficou na capital. Porque não tem nada melhor do que não fazer nada ou fazer tudo, rolando e caminhando pela Porto Alegre no verão.
(*) márcia fernanda peçanha martins, publicado no site www.coletiva.net

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24 janeiro, 2009

Que dia!


Amanheço devagar
para que os olhos
se abram num piscar
examinem o sol
cheirem o vento
e acendam o farol

Acordo no momento
do banho quente
de buscar o sustento
me limpar do cabaré
comer pão amanhecido
e um pingado café

Caminho abatido
para driblar o tempo
e o sono foragido
porque na repartição
tudo é entorpecido
pela linha da produção

Mais tarde, a marmita
tem feijão fervido
e a comida favorita
um arroz grudento
porção de batata frita
algo como um alimento

No final, tudo se ajeita
no ônibus de volta
minha cabeça se deita
e já começo a pensar
na comida pro jantar
e na cama ainda desfeita.


márcia fernanda peçanha martins

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Tudo ou nada (*)

Meu carinho te envolve
para silenciar o teu desejo.
E esperar passar a madrugada
Doce e mágica como um beijo.
Na manhã, não te encontro mais
e vejo tua ausência na cama.
Penso que a ternura foi demais
E me enxergo muito insana.
De dia, te enlaço,
À noite, te abraço.
Às vezes, ultrapasso
tudo
ou nada
e vence o cansaço.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Viver ultrapassa o entendimento (*)


Pela primeira vez, desde que escrevo para o Coletiva, experimentei um desânimo, falta de assunto e vontade de mandar tudo práquelelugar (sei que não é junto, mas digamos, criei uma figura de linguagem). Se você é meu leitor de carteirinha, não se preocupe não se trata de TPM e nem crise de identidade. Tudo passa. E, se você odeia minha coluna (ai, te pego um dia de jeito) e fica mandando comentários negativos, não se anime muito. Pode ser a saudade da rotina da redação, dos amigos que não procuram, do sol que sumiu, do chope com batatas fritas com o namorido. Coisas de Porto Alegre Triste no verão.
E vamos combinar! Não há nada tão triste com a saudade. Clarice Lispector, que assim como Caio Fernando Abreu, tem passagens ótimas para os dias em que se está blasé, já disse. “Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas, às vezes, a saudade é tão profunda que a presença é pouca: quer-se absorver a pessoa toda”. E prossegue; “essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida”. Sei que a definição é literal, mas não tenho como absorver tantas situações de saudade que me oprimem.
Na trilha de Clarice, vou tentar diminuir esta dor que hoje sinto e que é só minha e lembrar que “viver ultrapassa todo o entendimento”. Então, se não é possível entender tanta vida levada ao extremo, vou fingir que não tou nem aí se já não posso correr para os braços de minha mãe e pedir consolo porque ela está adoentada e não pode se incomodar mais. Ultrapassa o entendimento. E que mais pai redescobri tardiamente e mora distante para eu pedir-lhe um carinho presencial. E que os amigos especiais (aqueles 7/8) são amigos, mas não podem viver nossa vida por nós. Ultrapassa o entendimento.
Novamente, me apropriando de um pensamento de Clarice (aff, será ela não deve ser co-autora da coluna?), recordo de um que se encaixa muito bem no meu dia de paisagem. “Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar”. Mas, hoje, sinto-me leve como uma brisa, incapaz de convidar você para olhar o pôr-do-sol do Guaíba, um café na Casa de Cultura Mário Quintana, uma volta no Mercado Público ou um passeio na Redenção. É que estou leve, mas com sentimentos capazes de produzir furacões e vulcões. Não se aproxime!
Palavra de mulher. Semana que vem nem me lembrarei deste texto derramando fel, do meu descontentamento com as saudades que serão sempre só saudades e nada mais, do sumiço de amigos, da música “Atrás da Porta” que se repete no play do CD, talvez não lembre nem de mim este estado de desligada da tomada. Uma das muitas coisas que aprendi com Clarice (tou extremamente íntima, viram?) é que se deve viver apesar de. “Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive, muitas vezes, é o próprio apesar de que nos empurra para frente”. Que assim seja!

(*) márcia fernanda peçanha martins

11 janeiro, 2009

Romance


Não feche a porta.
Não mude o recado
na secretária eletrônica.
Conserve a horta.
O mobiliário ajeitado.
Mantenha a arquitetônica.
Talvez eu repense.
Reestude as opções
e volte para casa.
Se o coração vence
e prioriza as emoções,
eu te abraço,
eu te enlaço,
e reinvento o romance.


márcia fernanda peçanha martins

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A vida e seus segredos

Vem e deita tua cabeça no meu colo,
deixa que eu te faça carinho e afagos,
não tenha vergonha, a vida é cheia de segredos,
mas nada que justifique tantos medos.
Vem que eu deslizo a mão sobre a camisa polo,
deixa de lado tudo que te traz desagrados,
não tenha receio, a vida é traiçoeira e dengosa,
mas nada que desanime uma transa gostosa.
Vem e encaixa tua coxa na minha coxa,
deixa que os corpos se cubram de agrados,
não tenha pressa, a vida é quase um cinema,
mas nada que justifique tanto teorema.
Vem, me desafia, mas não me faz de trouxa,
deixa teus braços me prenderem enroscados,
não tenha desconfiança, a vida é sempre surpresa,
mas nada que desanime e me deixe presa.
Vem e te arrasta humilde sobre os meus pés,
deixa o mundo correr para os desgarrados,
não tenha arrependimento, a vida é suspeita,
mas nada que justifique a pouca colheita.
Vem, meu menino e apela para minha fé,
não vou deixar que te domine os desconfiados,
nem que tenhas lembranças e restos do passado,
a vida pulsa, tange, acelera e nos leva ao pecado.


márcia fernanda peçanha martins

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As manhas

Encosta a tua boca devagar
na minha nuca.
Esquece tudo e vem mergulhar
no meu corpo, meu ar e minha mente.
Vou ficar maluca.
E oferecer meu sexo docemente.

Abandona a timidez, vai adiante
beija o meu colo.
Sente a respiração ofegante
quando tua perna me enlaça
Fico sem solo.
Me enrosca e me abraça.

Coloca a tua mão forte
nas minhas entranhas.
Que te engolem com sorte
e estremecem com teu tesão.
Faço mil manhas
E adormeço gemendo de paixão.


márcia fernanda peçanha martins

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