Atos e peripécias do sexo (*)

No teu corpo despido sobre a cama
ainda arfando depois de peripécias
encontro a nudez dos sentimentos
resistindo e cedendo às renúncias.
No músculo enrijecido da perna
vertendo o suor dos malabarismos
impregna-se o cheiro do sexo recente
capaz de subverter os dogmatismos.
No cacho de cabelo colado na fronha
uma parte que sobrou dos exercícios
e insiste em fixar-se no peito forte
salgado de mar como os fenícios.
E assim, em cada pedaço, despojado,
desvelado e relevado naquele quarto
no quebra-cabeças do corpo masculino
o desejo de recomeçar um novo ato.

(*) márcia fernanda peçanha martins

 

Enamorada da primavera (*)

Sorrateira, com medo da pandemia,
uma fração de primavera arromba a janela
e vai espalhando-se nos cantos da casa.
Numa mistura de surpresa e euforia,
em passos rápidos o odor fica de sentinela
e absorve inebriado a mescla de cheiros.
Eu, anfitriã, para mostrar toda alegria,
espalho incensos que exalam citronela
e rodopio enamorada dos raios de sol.

(*) márcia fernanda peçanha martins