Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

30 agosto, 2008

Estas Marias de agora (*)


Caro senhor sem nenhuma noção: pense duas vezes antes de levantar seu braço pesado para bater em alguma mulher, seja ela sua companheira na cama ou colega de trabalho. Caro homem que ainda se prevalece da força física: conte até 10 se passar pela sua cabeça de minhoca demonstrar contrariedade com a opinião da sua mulher, filha, conhecida, namorida estalando uma bofetada no rosto da mesma. Depois de apanharem caladas, escondendo as marcas ou manchas das agressões sofridas debaixo de óculos escuros, echarpes, mangas compridas, ou inventando portas no meio do caminho, as mulheres botam a boca no trombone.
Mas foi preciso muita mulher sofrer violência doméstica antes; assistir ao arquivamento massivo dos processos (quando o crime era denunciado) ou até mesmo engolir calada, conforme a sensibilidade do delegado que fazia o Boletim de Ocorrência (BO), a insinuação de que ela provocara ao andar com trajes ousados ou rebolar o seu bumbum bem torneado. Até que uma biofarmacêutica brasileira, hoje com 60 anos e três filhas, resolveu dar um basta às freqüentes agressões que seu marido, um nobre professor universitário, lhe aplicava. Em 1983, ele tentou matá-la duas vezes. A mulher não morreu. Ficou paraplégica.
Maria da Penha Maia acordou para a vida e lutou para que seu agressor fosse condenado, no episódio conhecido, pela primeira vez na história, como um crime de violência doméstica. Sua história gerou a Lei Maria da Penha, que reconhece a gravidade dos casos de violência doméstica, e tira dos juizados especiais criminais, destinados ao julgamento de crimes de menor potencial ofensivo, a competência para julgá-los. Implantada há dois anos, a lei despertou um Brasil mais vigilante e menos tolerante com a violência contra as mulheres. E permitiu que as mulheres, graças aos mecanismos de apoio criados, denunciassem. Sem medo da cara torta e brava do agressor.
Uma pesquisa realizada pela Themis (Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero), entre os dias 17 e 21 de julho, com 2002 entrevistados em 142 municípios brasileiros, mostra que a Lei Maria da Penha tem 83% de aprovação da sociedade. Os dados do trabalho, em conjunto com o Ibope, e com o apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, surpreendem ao constatar que a maioria da população brasileira (68%) conhece a lei, sancionada no dia 7 de agosto de 2006; 33% acreditam que a lei pune a violência doméstica; 21% pensam que ela pode evitar ou diminuir a violência contra a mulher e 13% entendem que a lei tem ajudado a resolver o problema.
Há muitos itens significativos no levantamento, facilmente acessado na página da Themis (
www.themis.org.br), mas o importante é alertar às mulheres de que não precisam aceitar violência física, psicológica, moral, sexual, patrimonial ou de cárcere privado (as principais relatadas no primeiro semestre através do telefone 180, serviço da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres que funciona 24 horas, todos os dias da semana, inclusive finais de semana e feriados). Que ser mulher é uma honra; que não se leva desaforo para a casa; que não se deve deitar com o agressor; que ser feminina não significa burrice e conformismo; e feminista é bem mais do que queimar sutiã em praça pública.
Todas nós, mulheres, temos um dom, uma certa magia. Temos o som, a cor, o suor, uma dose mais forte e lenta do instante em que devemos sorrir. Mas, assim como a Maria da Penha, merecemos viver e amar neste planeta, sem o perigo de rótulos porque provocamos, insinuamos, rebolamos, mexemos os quadris. A todas que passaram a viver, em vez de agüentar, que tiveram raça, gana e graça para manter seus sonhos, meu muito obrigado. E aos homens que ainda fazem da força seu mais forte refrão, muito cuidado. Não existe só uma Maria da Penha neste País.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Última vez

Na madrugada mais gelada,
o som do minuano a ventar,
a calma fez pacto com a cilada.
O silêncio chega a amedrontar.
E eu novamente a te esperar.

São noites de frio. De medo.
Quando a solidão senta na sala,
e me deixa quase sem enredo.
Tenho o corpo coberto pelo pala,
e os sentidos sonham com tua fala.

Mais um cálice de vinho tinto.
Mais um incenso para perfumar.
E se eu tivesse tomava um absinto.
Para manter a esperança de tocar
teu corpo, beijar-te e me aninhar.

Jurei que esta seria a última vez,
que deixaria teu amor me consumir.
Vou escrever outro romance, talvez.
Se, em 30 minutos, a porta não abrir,
o celular não tocar e o interfone apitar.

Nada. A luz na janela mostra o novo dia.
Já basta de tanto chorar por amor.
Mas, a tristeza ainda é rouca melodia.
Indica que é penoso não sentir dor.
Seguirei um tempo perfumada de rancor.


márcia fernanda peçanha martins

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Mês do cachorro louco (*)

Se agosto é mesmo o mês do cachorro louco (aimopai, segura o Dalai, cão da minha filha Gabriela Martins Trezzi, que ele já é totalmente fora da casinha) e do desgosto, como diz o adágio popular (me puxei), tenho sido abençoada. E, lamento “catiguria” dos invejosos, mas tenho muito a comemorar. Para contrariar todas as projeções maquiavélicas, os agostos têm sido bem generosos com a minha pessoa. Como sou daquelas neuróticas que anota tudo na agenda, os dias já circulados com marca-texto em agosto, anunciam que novamente, em 2008, serei a criatura do passo errado e terei o que festejar no mês tenebroso.
Os primeiros fogos de artifício foram lançados com antecedência em julho mesmo e antecipei a comemoração. Não dava para esperar muito. A apresentação do sarau da comunidade do Orkut “Poemas à Flor da Pele”, grupo que integro, no dia 9 de julho, intitulado “Café Alfama: é fácil de amar” foi um sucesso. Não exatamente de público porque o porto-alegrense ainda reluta em conhecer novas opções culturais e a grande mídia não é nada simpática às inovações. Mas foi um sucesso especial para que eu percebesse que é possível se permitir e se ousar. A idade nem me intimidou e provoquei a minha inibição.
E como a apresentação em palco é resultado de um trabalho de grupo, agradeço através da coluna todo o elenco do sarau com uma estrofe do poema da portuguesa Maria Helena, que julguei ter interpretado. “Eu quis ser o poeta do sol alto. Do dia claro, das manhãs sem fim, mas foi a noite que tomou de assalto, o céu oculto que eu trazia em mim”, uma das 10 estrofes de “Lirismo” que entrego à Soninha Porto, Stella Vives, Mara Inez, Violetta, Pati Kobe, Cigana, Gabriela, Sandrinha, Luis Felipe (Shyn), Ricardo Mateus, Tadeu, Giovani e Marcos Bahrone, que mais uma vez abusou do talento na performance de Fernando Pessoa.
No dia seguinte, 10 de julho – tradicionalmente uma data que evito comemorar e não se lava roupa suja em público – o meu amado sobrinho/afilhado Rafael apresentou sua monografia “É o fim da várzea”, um ensaio etnográfico sobre formas de sociabilidade, narrativa e conflito em um time de futebol de várzea na cidade de Porto Alegre. E obteve conceito A do Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS. Pois o meu Rafinha, que se forma em gabinete no dia 7 de agosto, escreveu coisas tão coerentes para quem completa 23 anos no dia 26 e nunca ganhou nada de mãos beijadas, sempre foi à luta para conseguir seus objetivos, que me transbordou de orgulho!!!
No mês da “falta de sorte” (não digo a outra palavra, é uma pequena superstição) vou, ainda, passar por, no mínimo, três experiências que prometem um atalho para a felicidade. A minha pequena (cumã?) Gabriela Martins Trezzi teve uma melhora surpreendente na sua avaliação comportamental no colégio. Não que ela tenha notas ruins, mas, volta e meia, abusa nas conversas. E o parecer do trimestre será entregue em agosto. É o mês em que deverão ser intensificados os novos projetos da Poemas à Flor da Pele, em que deverei dar o ok no livro de poemas coletivo a ser lançado no XVI Congresso Brasileiro de Poesia, em Bento Gonçalves, de 6 a 11 de outubro.
Poxa, estava esquecendo completamente. A comunidade “Balzacos”, também do Orkut, tem festa quase todo o dia para comemorar os quatro anos. Em agosto de 2008 começam as mobilizações, plenárias, agendas e tudo o mais envolvendo a eleição para prefeito da minha Porto, cidade Alegre. E, claro, dentro das minhas condições de saúde, que não posso abusar da sorte, estarei mais uma vez engajada no projeto que considero melhor para todos nós. Com tanta coisa, é melhor colocar uma camisa-de-força no mês que ele enlouquecerá de vez!
márcia fernanda peçanha martins (publicado no site www.coletiva.net)

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É noite


É noite que se recolhe,
pede silêncio, pede sossego,
e quer dormir.
É o sol que se encolhe,
nem luz, nem quente, nem poente,
e quer fugir.
No louco intelecto do noturno,
semente frutificou e deixou o solo
correndo sem fôlego, sem colo.
No doido destempero do diurno,
o tempo é veloz, sozinho, sem vizinho,
e segue escondendo o seu destino.

márcia fernanda peçanha martins

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14 agosto, 2008

Ao Fim

Depois da quarta dose
de vermute, senti um calor,
um frenesi e um arrepio.
Tempo de overdose.

Espalhei-me sem pudor
e encostei no teu peito frio
os meus seios carnudos.
Tempo de gozo e fervor.

Ao fim, um menino arredio,
me deixa ardendo de tesão
e abandonada, nada, ultrajada.
Ainda berro de tanta paixão.


márcia fernanda peçanha martins

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06 agosto, 2008

Mulher Só

Passeio pela minha cidade
afobada, acelerada, assustada
e com pressa de felicidade.
Na tarde quente do verão
calada, combalida, cansada
e com cheiro de tesão.
O suor percorre as entranhas
e sinto seu líquido se misturar
nos membros e nas manhas.
O corpo transpira a estação
sensual, sexual, animal
que se contorce de paixão.
Disfarço e escondo os sentimentos
não quero mostrar-me indefesa
nem aceito ser tratada como presa.
Fêmea fácil não cala os lamentos.
Às vezes se oferece tão sedutora.
Se enfeita e se mostra perturbadora.
Fêmea difícil engole os tormentos.
Às vezes se fecha tão chaveada.
Se tranca e se mostra acanhada.
No final do dia, é uma mulher só.
Sem parceiro. Sem medo. Sem dó.
E tem os nervos à flor da pele.

márcia fernanda peçanha martins
(poesia que está no 2º E-book da comunidade Poemas à Flor da Pele)

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A Redenção ao alcance do lago

No espelho das suas águas,
calmas sem turbulência
e rebeldes pela audiência,
tudo é novidade.

Sentimentos já são mágoas.
Lembranças de sonhos adiados.
Sentam-se nos bancos alinhados.

Teve um brinquedo que caiu
e um gato que se espantou.
O barco de papel que partiu
e um biscoito que escorregou.

Amores coloridos na primavera.
Desencontros cinzentos no outono.
Sobrevivem abraçados e sem sono.

O menino entrou lago adentro
para afundar a vida abandonada.
A velha de óculos gastos sem nada
mergulha na água a mão enrugada.

Entregue à aventura todos os dias
e regado à adrenalina na semana.
De vez em quando, as águas arredias
imploram, com piedade, a redenção.

márcia fernanda peçanha martins
(poesia feita para a Exposição do fotógrafo David Nóbrega, confome convite abaixo, com inspiração na foto que ilustra o post)

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02 agosto, 2008

Sou feliz e não tenho marido (*)


Viviana, uma mulher comum, casada há 27 anos, conseguiu realizar seu grande sonho e lança o livro “Não sou feliz, mas tenho marido”. E, durante a coletiva de imprensa para falar da obra, encurralada pelos jornalistas, ela reforça aquilo que o título do livro indicava: seu casamento está em constante prova de força entre a harmonia do casal ou a preservação da individualidade. O roteiro poderia ter como modelo qualquer mulher dos anos 50, 60 e 70 do século passado. Trata-se de um monólogo baseado no livro de crônicas da escritora argentina Viviana Gómes Thorpe, retratando experiências recentes.
Interpretado pela brilhante Zezé Polessa, a peça originária do livro chega a Porto Alegre na metade de agosto, mas chama a atenção porque cutuca com humor e ironia em problemas enfrentados pelos casais atuais. A falta de diálogo, a poupança para bancar planos futuros, o amor masculino pelos automóveis, televisão e futebol, as horas que a mulher passa no salão de beleza ou o enorme apego feminino à sua família. A mesmice servida à mesa diariamente para manter as aparências ou o medo de trocar de estado civil. Tudo exposto sem nenhum botox para diminuir as rugas. Com as vísceras à mostra.
Na realidade, o livro tornou-se um best-seller e figurou na lista dos mais vendidos nove meses consecutivos na Argentina. A autora arrumou inspiração para escrever em tom 95% autobiográfico ao ser informada, após 27 anos de casada, pelo seu próprio marido, que ele comemoraria a data trocando-a por uma mulher de 27 anos. A Viviana, encarnada pela Zezé Polessa, ou a original argentina, não é um caso único. Quem sabe a sua colega de faculdade com aquele ar de superior? Ou a sua vizinha do 402? Não importa o nome. Mas existem muito mais Vivianas por aí, vivendo das aparências, apesar de toda libertação feminina.
O que posso dizer? Apenas que o livro é muito bom. Excepcional. E, se o seu relacionamento não anda na fase da lua-de-mel, a leitura pode ser o empurrão necessário para a decisão de ir cada um para o seu lado, voltar a ser indivíduo e se descobrir novamente. Não é preciso mais sorrir amarelo para aquele amigo de infância idiota do seu companheiro que sempre faz piadinhas imbecis. Nem fingir que perdoa a preferência escancarada da sogra pela outra nora. E muito menos calar o grito de gol do seu time porque não é o mesmo do seu marido e ele já deixou claro várias vezes que isso é provocação.
Terminar um relacionamento de muitos anos é como disse a autora, numa entrevista à Revista Época, na edição de 17 de julho de 2006, fugir de Alcatraz e jamais aceitar ser presa novamente. “Depois de haver cumprido prisão perpétua, porque 27 anos é prisão perpétua, sou como um fugitivo de Alcatraz, não quero ser capturado novamente de jeito nenhum”, destacava a Viviana argentina na entrevista. Acho que a minha identificação com a Viviana é plena: tanto no período em que esteve casada e no pós-separação. Assim como ela, sou destas mulheres que se enamoraram definitivamente da solidão.
Compactuo com Viviana atual a fúria dos convertidos. Durante um tempo pratiquei o matrimônio com devoção. Mas agora deixei de ser masoquista ou de tentar ensinar analfabetos inúteis. Para isso, é necessária muita vocação e, na grande maioria dos relacionamentos, pisotear todo o dia um pouquinho naquela pessoa que você realmente é. Até chegar o irreversível dia em que você deixou de existir. Por isso, alertem as Vivianas que vocês conhecem. Já podemos sim dizer que somos felizes sem um marido a tiracolo. Ou melhor, que servimos a nós mesmas


(*) márcia fernanda peçanha martins (postado no site
www.coletiva.net)

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Certificado

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3º lugar concurso Eros

O namoro do amor com o sexo (*)

O afago macio dos teus dedos.
Aveludados.
Delicados.
Percorre meus pedaços.
Desmancho-me em abraços.
Abro meu corpo despido de medos.

O calor da tua boca na minha nuca.
Sussurrando.
Provocando.
Invade os meus ouvidos.
Derruba-me sem sentidos.
Cruzo nossas pernas feito uma maluca.

O teu corpo deitado me excita.
Despudorado.
Desajeitado.
Encosta em mim freneticamente.
E já não comando a minha mente.
E pelos lábios, meu sexo grita.

Depois, abraçados e arfando na cama,
esperamos um novo sinal de tesão,
para reiniciar o movimento de paixão.
Tenho um fogo, um ardor, uma chama,
que te assusta, te derruba e te enlouquece.
Mas te envolve, te belisca e te aquece.

márcia fernanda peçanha martins (poesia classificada em 3º lugar no Concurso Eros, da comunidade do Orkut Poemas à Flor da Pele, junto com outro poema)

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A árvore secular (*)


Ah! teus galhos se espalham
confortantes
como os braços de uma mulher
e se enrolam, e se derramam.
Insinuantes.

Tuas folhas leves se soltam
esvoaçantes
como a mente de uma criança
e se perdem, mas retornam.
Gratificantes.

Tua fuligem áspera incomoda
asfixiante
como a indecisão de um homem.
Mas no cenário, tudo se acomoda.
Fulminante.

Sob as tuas sombras, descansa
a mãe, o pai, o adulto e a criança.
E no fechar dos olhos
semeiam lembranças.

Sob os raios de sol, que permites
passar pelas tuas frestas
deitam amantes de serestas
e acordam heróis mais tristes.

Márcia Fernanda Peçanha Martins (* poesia feita para a Exposição do fotógrafo David Nóbrega, convite abaixo, com inspiração na foto que ilustra o post)

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