Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

30 dezembro, 2008

Dominó do sexo (*)

Depois de me excitar,
me arranha,
me leva prá cama
que eu te faço delirar.

Não perca esta chance,
me acaricia,
me contagia
que estou ao teu alcance.

No dominó da entrega,
me faz teu par
ou peça vulgar.
Vou quebrar as regras.

Antes que eu esqueça,
me faça surpresa,
não me dê moleza.
Deixe que tudo estremeça.

Os gestos tão frenéticos,
tua voz emudece
tu já não obedece
em movimentos estéticos.

E o corpo sob os lençóis,
ao fim se entrega,
tua mão escorrega
desfazendo meus nós.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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Tecendo Arte na Rede (*) (**)

Na rede me encosto
na teia me enrosco,
para depois me perder
na eterna arte de viver

Embalo na rede minha arte que teço em poemas

Teço com meu amor, deitada na rede, planos para viver de poesia e arte

Nas costuras mal feitas da rede da vida, alinhavo versos e teço rimas com arte

Deito-me na rede, pendurada no terraço, e ouço as frases com que me devoras nas poesias com arte e tesão

Rede que me prende, arte que me envolve e poemas que eu teço

Despejo versos que se misturam, se tecem e se apaixonam com toda arte

Costuro meus poemas, como se fossem teares na rede, e assim, alimento minha arte

Quero tecer meus sonhos e embalar as utopias na rede eterna das ilusões

Cada frase escrita na rede da nossa vida é um desafio para se alcançar a felicidade

Deita tua cabeça na rede na varanda, que te embalo enquanto teces novos planos ao som de cantigas de ninar

Hoje eu quero tecer afetos que cultivei na minha rede de amigos

Espio deitada na rede, estrelas que tecem no céu a arte da eternidade

Na rede da vida, fui tecendo amigos e com arte coloquei-os nos meus poemas

Versos que se unem em poemas e amigos que se enlaçam na rede onde teço meus afetos

Quero tecer o amor na rede que abriga os nossos carinhos.

Reviro-me na rede ainda impregnada com o perfume dos versos de amor que juntos tecemos.

Cada amor que se rompe é um pedaço da minha rede que deixo de tecer

Não quero entregar-te meus sonhos sem tecer neles nenhum ponto de esperança

Com a lua por testemunha, amei-te na rede embalada pela arte de tecer felicidade

Desnuda andei pelas montanhas e te encontrei a tecer versos na rede do sobrado

Na teia dos sentimentos, nino a minha filha com as cantigas que aprendi na arte da infância

Alinhavo emoções que podem tecer felicidades ou arrematar saudades

Teço no teu corpo, afetos e carinhos que me prendem na tua rede


(*) Tecendo Arte na Rede é o blog de uma comunidade do Orkut que reúne pessoas de vários locais do Brasil dedicados a alguma forma de cultura/arte. Mensalmente, é feita uma seleção entre os próprios membros para escolher a melhor frase do período sobre Tecer, Arte, Rede de Amigos, Amor, Entregas, Descobertas e Palavras. A frase escolhida permanece até a nova votação na abertura do blog da Tecendo, que é www.tecendoartenarede.blogspot.com
(**) as frases acima são de minha autoria
márcia fernanda peçanha martins

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29 dezembro, 2008

Um novo de novo

Um ano de novo começa
e ninguém sabe
porque o velho não continua.
De novo o ano é promessa
de boas intenções
e quase sempre tudo recua.
Tempo de brindar e crer
mesmo que rápido
porque a paz não é eterna.
Sonho de amar e crescer
nos novos 365 dias
mais que a união fraterna.
Se tudo de novo prossegue
com outro visual
o que garante o calendário
conseguirá mudar?
Novos dias? Não, sossegue!
É o desejo normal
de escrever um novo diário.
Apesar disso, vá em frente,
pois uma surpresa
pode acontecer.
E assim tão inesperadamente,
você até reconheça
no novo, a velha beleza.


márcia fernanda peçanha martins

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20 dezembro, 2008

Cenas à flor da pele (*)

O teu cheiro impregnado
no lençol, no roupeiro, na toalha
é uma armadilha.
Ainda vives ao meu lado
no aparelho de barbear, na malha
sob o corpo da filha.
Pulo as páginas do diário
mas teu nome não some, é marca
no sonho, no pesadelo.
Desinfeto e limpo o armário
e o cheiro da tua roupa encharca
e abafa meu desmazelo.
Estranho como tu me dói,
sem hora, sem jeito,
feito cicatriz que corrói
e agora não tem respeito.
Que pena. Continuo plena
de tua presença.
Minha sentença.
Que cena. Ainda me condena
pela emoção
à flor da pele.
Que obsceno. Me desordeno
pela paixão
que me impele.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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Natal

FAÇA NATAL TODOS OS DIAS (*)

A fantasia do Papai Noel sentado no trenó guiado pelas renas nas estradas cobertas de neve, a imagem das decorações natalinas que invadiam as grandes lojas de departamentos e o interior das nossas residências, os cartões que a gente recebia com as felicitações de boas festas. E a lista de presentes que se entregava para os familiares com mais posses. O papel misterioso, quase já rasgado de tão amassadinho, com o nome do amigo secreto da firma. Os planos para a ceia da noite do dia 24 e a troca de presentes antes da meia-noite. Cenas de Natais passados e que hoje trazem o cheiro mofado da saudade.


Motivos não faltam para explicar o sumiço de símbolos e fatos tão intimamente ligados à magia do Natal. O mais rápido é dizer que a culpada é a economia e suas oscilações, responsável pela arquitetura de um Natal enxuto e decorado conforme as finanças de cada família e com minguados penduricalhos nas lojas de Porto Alegre. Ficam livres do julgamento os shoppings que cada dia inovam mais nos enfeites de Natal. O resto é culpado. Mas e o espírito natalino também sofreu uma redução em decorrência de maus desempenhos da economia?

Sempre tive um problema de relacionamento com o Natal. Dona de colocar rótulos, classifico a data como melancólica, triste, confusa de emoções. Cumpria os rituais todos e gostava de observar e ajudar na preparação de cada detalhe com afinco. Tanto na minha fase solteira, casada ou agora “livre, leve e solta”. Mas nos dias 24 e 25 de dezembro, um sentimento de impotência, até de falsidade com a mensagem de renascimento atrapalhava as minhas festas. Como se um cenário montado às pressas e sem a mínima preocupação com a tal da solidariedade fosse modificar o Natal daqueles que nada tiveram ou têm.

Não entendo, e acho que nunca entendi, o Natal como data de trocas emocionais. Não compreendo que, a exemplo de tantas outras datas, mesmo que reconheça a sua importância católica, seja determinado ter sentimentos em dias específicos. Se Natal está relacionado com renascimento de amor, de afetos e de ternuras, porque representar estas emoções com a troca de presentes uma vez ao ano? Que se faça Natal todos os dias! Seria mais humano, mais digno e mais católico. Sempre repugnei hora marcada para amar, ser solidário, abraçar, chorar. Sentimentos não são controlados. Sim espontâneos.

Você pode fazer Natal, por exemplo, ao não fechar o vidro do carro na sinaleira para o menino, maltratado e maltrapilho que pede algo. Você deve ter mais paciência com os velhinhos, que não vestem roupa de Papai Noel, nas filas dos bancos, das lojas, nas páginas da vida. Você não precisa ser caridoso com seu porteiro, zelador e entregadores somente perto do Natal. Nem sair para distribuir presentes em vilas e favelas só em mutirões natalinos. Experimente. Deixe a preguiça de lado. Junte uns amigos. Faça uma entrega mensal. Com certeza, você se sentirá bem parecido com o Papai Noel dos natais passados.

(*)márcia fernanda peçanha martins

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09 dezembro, 2008

Imaginação de trenó

Minha imaginação caminha só.
E jura que viu estacionar um trenó,
na casa da rua que sobe e desce,
e até um velho cansado de dar dó.

Não sei se minha mente está demente.
Mas ela afirma que viu mais que duentes,
e o homem, de barba branca, e olhar amigo,
entrou por toda porta, em qualquer abrigo.

Deixou pacotes, sacolas e muitos presentes.
Carregava um saco para levar as encomendas.
Tentou. Mas não conseguiu novos clientes.
A cada ano, aumenta a lista de pessoas carentes.

Na noite de 24, meus olhos dizem que sim.
Que um trenó voava com ele pelo céu sem fim.
Puxado por renas, bichos estranhos, o Papai Noel
lamentou não poder cumprir o seu papel.

márcia fernanda peçanha martins

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Aniversário da minha filha


Conselho de mãe
Pega e aperta firme a minha mão.
Quero te apontar os caminhos
Onde não se coleciona a decepção.
Passo a passo, anda sob meu pé
Posso te fazer pular obstáculos
E te ajudar a driblar a maré.
Agarra com coragem na cintura
E não veremos monstros, fadas ou
Qualquer medo na noite escura.
Ah! Não hesites jamais
Porque todos têm altos e baixos
E problemas bem banais.
Deixa a lágrima rolar
Sempre que a dor chegar
E tua emoção não controlar.
Ah! Me dá um abraço cansado
E vem repousar ao meu lado
Que o tempo é nada lá fora.

márcia fernanda peçanha martins

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02 dezembro, 2008

Poeminha do sexo urgente

A mão forte deslizou
pelos seios
pelas pernas
e nada lhe intimidou.
A boca ardente, quente
murmurou
e encostou
na minha nuca fervente.
O lábio molhado, suado
ofegante
sibilante
Expôs-se despudorado.
Pernas se cruzaram
com coragem
com vadiagem
e logo me enlaçaram.
No meu corpo, teu espaço.
No teu peito, meu amasso.
Sob o lençol, a calmaria
no minuto após a fantasia.
Movimentos frenéticos,
respiração descontrolada,
cenários nada estéticos.
O corpo quer descanso
mas o tesão berra mais
e recomeça o balanço,
os gestos, gemidos e ais.


márcia fernanda peçanha martins

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A filha que eu queria ter e tive (*)

Mãe é tudo igual. Não adianta a revolução, o movimento hippie, o pós modernismo, o concretismo e qualquer outro ismo, que invariavelmente as mães saem todas do mesmo forno. Se o rebento (a) chega à casa da creche com um arranhão, resultado de diferenças entre coleguinhas, a mãe já pede uma reunião com a proprietária, a pedagoga, o pai e a mãe do agressor e sai da frente para ela não ter idéia de convocar o delegado. Mais velho, o filho (a) retorna da escola com um sorriso amarelo e a mãe não sossega até saber o que ocorreu ou não. E ao sair para a balada no verão, “vai, coloca um casaquinho”, elas dizem.

Só muda mesmo o endereço. E resta à filha (a partir desta linha, passo a usar o feminino porque relato parte da experiência com a minha Gabriela Martins Trezzi) aceitar e compartilhar a companhia materna, até que a morte, a independência financeira ou um menino sarado de piercing e tatuado a separe. Porque toda mãe vem sempre com um kit completo sujeito a pequenas variações. Noites sem dormir quando a febre passa de 37 graus, telefonemas noturnos para a pediatra sempre que aparece uma saliência na pele, nervosismo no primeiro dia de aula, lágrimas e lágrimas quando recebe os boletins.

Cenas rotineiras nas relações entre mães e filhas que se entendem e se desentendem. A cara de emburrada da filha (conhecem o termo né?) quando a mãe encontra o quarto bagunçado. É melhor nem abrir as gavetas. Olhar só o superficial. Ou a fisionomia de paisagem ao entregar um trabalho do colégio com bilhete da professora que exige assinatura. O jeito adolescente de evitar qualquer conversa envolvendo pequenos romances. A porta fechada para atender o celular e trocar confidências com as amigas. E qual mãe nunca engoliu em seco a filha falando em tom mais elevado do que deveria?

Mas existem as recompensas que as mães ostentam com orgulho. Como se fossem troféus. O primeiro trabalhinho de artes, que a mãe jura assemelhar-se aos traços de Picasso. Emoldurou e está pendurado no quarto materno. A foto da filha com o chapeuzinho na formatura da creche e a mãe se escondendo para não aparecer na foto inchada de tanto chorar que ocupa local de destaque na bancada de trabalho. A felicidade porque a filha foi classificada em um concurso de redação. Sem falar nas obviedades adolescentes: o scarpin, o vestido de festa, a primeira noite dormindo na casa de uma amiga.

Nos versos finais do poema “Ser Mãe”, Coelho Neto foi preciso ao definir que “ser mãe é andar chorando num sorriso, é ter um mundo e não ter nada, é padecer no paraíso”. Só as mães, independente do CEP, acham tudo isso muito bom e nem se importam com as preocupações, depois que elas passam, é claro. Só as mães, morando no bairro rico ou na periferia, compreendem o valor de um abraço fora de hora. E, algumas mães, foram escolhidas por Deus para cuidarem de pessoas iluminadas. Como eu, uma privilegiada, há 14 anos, com a companhia diária da Gabriela.

Por isso, a composição “O filho que eu quero ter”, de Toquinho e Vinícius de Moraes, que eu cantava desafinadamente para a Gabriela dormir ou desmaiar com a falta de ritmo, encaixa-se neste meu momento. De formatura da Gabriela no Ensino Fundamental, de suas primeiras incursões na vida noturna, de sentir que ela, qualquer dia destes, pode tornar-se independente, e de ver a sobrinha/afilhada Camila preparar uma nova menina em seu ventre. Adaptada ao viés materno: “dorme, minha mãe sem cuidado, dorme que ao entardecer, tua filha sonha acordada, com a filha que ela quer ter”.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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