Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

27 maio, 2009

Temos todo o tempo do mundo (*)

Pavimentava o trajeto rodoviário de volta para Porto Alegre na sexta-feira à noite, depois de três dias debatendo a importância da democratização dos meios de comunicação social, em Ponta das Canas, Florianópolis (SC), listando, mentalmente, as prioridades da minha agenda na semana. Resumir e escrever sobre a mobilização necessária para a Conferência Nacional de Comunicação, a ocorrer em Brasília, no início de dezembro; iniciar a revisão do volume II de livro “Antologias à Flor da Pele”; fazer as compras do supermercado; olhar os temas da minha filha Gabriela Martins Trezzi; visitar a Lohana, sobrinha-neta...
No exercício mental de organizar as tarefas, toda vez que a Marcinha Camarano, colega no encontro preparatório, amiga e companheira de sindicato, tentava cochilar, alheia a minha tagarelice, descobri que faltavam dias na semana. E para meu espanto organizatório, nem listara todos os compromissos inadiáveis. Precisava de uma brecha para a reunião do grupo que prepara a festa da turma da Famecos, a Saudosa Maloca. De um tempo para responder emails; atualizar meu blog; levar Gabriela na médica; os guris (caninos Dalai e Gandhi) no veterinário e abraçar uma amiga aniversariante do Correio do Povo.
Depois de um saudoso abraço na filha, fui dormir e deixei para outro dia a preocupação com as tarefas, ou melhor, para o domingo, já que no sábado à tarde tinha reunião de diretoria no Sindicato dos Jornalistas. Um simples telefonema interrompeu a calmaria matinal do sábado. Com ele, a notícia de que um grande e estimável amigo, de uma importância que nem sei dimensionar e não preciso atestar ao próprio, não passara bem e faria uma bateria de exames na emergência fria de um hospital. A reunião ocorreu, meu time jogou, o domingo chegou e fiquei a pensar no estrago que fazemos com a nossa saúde.
Não sei se é mal de jornalista. De afobados. De geminianos (ele não é de gêmeos, ora). De estressados. De insaciáveis. De responsáveis. Mas existe uma categoria de ser humano, e me incluo aí junto com meu amigo, que sempre aceita a nova e urgente tarefa; topa o desafio da emergência; promete entregar ontem o trabalho que recebeu hoje. E, assim, dizem, vivem ao máximo e deixam sua saúde em último plano. Até que a pressão aumenta, o coração dispara, a dor de cabeça se intensifica e o nosso corpo não mostra mais a mesma disposição para atos corriqueiros e banais (não é o que estão pensando, heim!).
Mesmo de licença-saúde, atropelei um pouco meu repouso domiciliar para resolver pequenas pendências; afivelar alguns projetos; lubrificar grandes idéias e quem sabe mudar o mundo. Que ainda alimento este sonho! Teimosa! Mas, o sinal vermelho emitido com o abalo na saúde de meu amigo me deu um alerta de precaução. Pega leve Marcinha. Não é você que planejou ver o sucesso profissional de sua filha? Não é você que ainda busca um PAITROCINADOR para publicar um livro de crônicas? Não é você que já se hospedou na UTI de um hospital em condições alarmantes?
Então, colega Márcia! Vá mais devagar. Você é importante. Só que o mundo continuará na sua marcha globalizada e capitalista, mesmo que você não proteste. Nem tudo será como nas novelas e você nem sempre viverá feliz para sempre ao lado da pessoa que escolheu, sendo ou não a protagonista. E nem mesmo seu time imortal tricolor rumo à Libertadores sentirá sua falta na arquibancada se você faltar a um jogo. Desacelera. Relaxa. Tenha minutos de reflexão. Fique zen. Durma depois da novela “Vale a pena ver de novo”. Leia muito. Contemple. Tome um banho relaxante. Permita-se. Não entregue os pontos no primeiro tempo.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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Tour emocional (*)


No sol de sábado
lembrei de esquecer
um pouco do passado
e deixei o mundo lá fora
livre para me percorrer

Milhares de turistas
visitaram meu interior
orientando-se pelas pistas
e conheceram uma alegria
resultado de muito amor

Cada olhar esquisito
a dissecar ossos e mente
foi afundando no infinito
que nem eu mesma conhecia
unindo futuro e presente

No fim do tour emocional
voltei mais enfraquecida
sem distinguir o falso e o real
porque ao desviar de medos
tombei, ergui e saí dividida

(*) márcia fernanda peçanha martins

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23 maio, 2009

Inferno astral, tou fora (*)


Não faço a menor ideia se me comportei direitinho, se cumpri com os meus deveres e se fui uma boa menina, daquelas de fazer os pais encherem a boca ao falar. Mas acho que fui uma filha na média, compreenderam? Na adolescência, fiz pequenas travessuras. Nada de amargar. Adulta, tenho os meus inconfessáveis pecados. Não os conto nem por sangue de barata. Afinal, estou viva e não tenho nervos de aço. E, nos últimos 14 anos e alguns meses, e mais se contar o tempo de gestação, confesso que me esforcei para corresponder às expectativas da minha filha Gabriela Martins Trezzi e, penso que não a decepcionei.

Na profissão escolhida, sem nenhum arrependimento, mesmo diante de algumas maldades, sou vencedora. Jamais vencida. Passei por importantes jornais, assessorias e frees e hoje, resultado de uma doença crônica adquirida sei lá como, encontro-me em licença-saúde do Correio do Povo. Nestes dias infindáveis de sossego em casa, resolvi aperfeiçoar ou retomar alguns itens. Fiquei mais aplicada como mãe, dediquei-me um pouco à culinária, voltei a escrever poemas e vou para a “Antologia à Flor da Pele II”, virei assídua em livrarias e cinemas, retomei a militância sindical, cuido de dois cachorros e acabo de virar tia avó.

Só não comprei, ainda, uma casa no campo onde eu possa ficar do tamanho da paz e tenha somente a certeza dos amigos do peito e nada mais. Mas já estou juntando as moedinhas. Aguardem. Então, no balanço de perdas e danos, posso dizer que sou feliz. E afirmo isso num período em que, tradicionalmente, a minha vida virava de pernas para o ar. Entrei, no dia 9, no período mensal que antecede o meu aniversário, o temido inferno astral, e nem tou aí. Não tenho medo do que possa ocorrer, não evito mais passar embaixo de escada, abano para gatos pretos e sei que estou protegida. Ou melhor, armada para a vida.

Ignoro totalmente como alcancei este estágio quase zen de felicidade. E, se soubesse a receita, ao contrário de outras vezes, iria distribuir de graça para todo o mundo. Quem sabe ao passear no Brique da Redenção, trocasse a militância pela panfleteação da receita! Ou pedisse espaço em um grande jornal para divulgá-la! E, claro que o povo aqui do Coletiva saberia antes de todos, com exclusividade. Mas não tenho. Defendo que é um somatório de acertos e encontros. Apenas atesto que detalhes tão pequenos de minha vida são coisas muito grandes e alimentam, nas doses suficientes, os meus momentos de felicidade.

Na plenitude destas gotas de felicidade, sei que nenhum inferno astral conseguirá me abalar. Tenho antídotos poderosos e não desço do salto. Nos 30 dias que precedem o meu aniversário de 40 e muitos anos, continuarei a minha saga de ser feliz. Porque cultivo amigos que dão sempre uma colheita farta. Porque eduquei uma filha que é um exemplo de pessoa, adolescente, cidadã e amiga. Porque procurei alternativas que não me levassem ao ócio durante a minha licença-saúde. Porque sei dos meus limites e dos meus desvarios. Porque compreendi que cada um dá apenas o que pode. Porque estou mais experiente. E “hoje, ando devagar, porque já tive pressa”.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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19 maio, 2009

Mal necessário (*)


Às vezes, tenho fome
De comida, de carinho
De solidão, de caminho
Meu trajeto é solitário
E não ouço meu nome
Se num ato involuntário
Busco novas alternativas
Para encher meu armário
Aborto o plano embrionário
Retorno sem comitivas
Não compreensiva, à deriva
Torno-me meu adversário
Uma mulher tão figurativa
Que se esquivou vingativa
E com o olhar incendiário
Interrompeu o itinerário
Sempre atrás na defensiva
Compulsiva e concessiva
Nada festiva e contemplativa
Virei um mal necessário
sem data de aniversário
nem marca no calendário
Prossigo com muita fome
Do lado certo ou contrário
Grito com a voz passiva
Sem uma forma conclusiva
Sou a falta de vocabulário,
O dia nada extraordinário
O triste fim do salário
Sou a vida conformativa
Sem história consecutiva
ou a sentença conjuntiva


(*) márcia fernanda peçanha martins

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14 maio, 2009

Mantra (*)

Mantra é uma espécie de reza
que nunca mais termina.
E não é novena e nem trezena
é como se fosse uma sina
que nunca sai da cabeça.
Uma história que fascina,
um amor que não sai de cena.
Mantra é afirmação da felicidade
sem sexo, cor, raça ou idade.
Que pode harmonizar a família
e espalhar seus raios de sol.
Mantra é o nome de minha filha
cantado por um afinado rouxinol
e atende pelo som de Gabriela

(*) márcia fernanda peçanha martins

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11 maio, 2009

O que restou (*)

Escondido na tua alma
leva um pouco de mim
mas carrega com calma
é só o que me restou
Agasalha o meu coração
com cobertores de lã
para abafar bem a paixão
é só o que me restou
Não veja com meu olhar
fiquei cega de amar
e hoje vivo a reclamar
tudo que me restou

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Areias e amantes (*)

Nas noites de lua cheia
os corpos ardentes
destilam a excitação
Espalhados sob a areia
amantes indolentes
desenterram a paixão
Depois nasceu na aldeia
tudo de mais urgente
como um amor assim
que se revela
à flor da pele


(*) márcia fernanda peçanha martins

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05 maio, 2009

A velhice de Cora (*)


Velhice é a companheira
dos que muito já viveram.
Pode aparecer sorrateira,
sem alarme, aviso ou email
e tem a rotina de parceira.

As rugas do rosto visíveis
indicam anos de experiência.
Já os sinais intransponíveis
desafiam a teoria da ciência
e espelham afetos sofríveis.

O corpo macio e dolorido
convida ao ócio da impiedade.
E a ausência de um sentido,
desperta de novo a criatividade
de falar sobre o dia ocorrido.

E da mente de Cora Coralina
um mundo vivo se descortina.
Por trás dos óculos, o passado.
Nas mãos cansadas, a coceira
de juntar versos de brincadeira.

No mundo daquela doce senhora
tudo agora servira de pretexto
para escrever poemas sem demora.
Sem se importar com o contexto
e com a maturidade de outrora.

Seu nome na literatura cresceu
e sobre amor e ternura discorreu.
Para os amigos e fiéis familiares,
essa menina, senhora, tão corada,
coralina, idosa, passeia nos lares,
carregando poetas na madrugada.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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A pétala (*)


Na pétala da rosa
o perfume
do ciúme
desabrochou.
E a dor em prosa
sem verso
no universo
se acomodou
à flor da pele


(*) márcia fernanda peçanha martins

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