Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

19 novembro, 2010

Alcovas (*)

Sossega teu cansaço
em meu dia monótono,
que te conto as novas
do romance da vizinha.
Relaxa em meu braço
o peso do teu trabalho
que te mostro as provas
da minha vida quietinha.
Acomoda-te no espaço
mínimo do apartamento
fazendo ali tuas alcovas
onde repousas à tardinha.
Descobre o teu pedaço
embaixo do meu edredom
e nem gasta tuas trovas
para me tirar da cozinha.
Com pouco me satisfaço
e logo fico tão disponível
porque não me desaprovas
rendo-me até a espinha.
Depois, teu corpo enlaço
e sem medo dos barulhos
que com discrição reprovas
te levo ao paraíso sozinha.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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15 novembro, 2010

Sarna para me coçar (*)


Diz a sabedoria popular que o cão é o melhor amigo do homem. O motivo de tão devotado relacionamento canino versus humano, na minha modesta análise, era o fato de o cachorro não falar, apenas emitir sons, e seria, por isso, o melhor ouvinte para o desabafo de nossos problemas. Nada melhor do que aquele amigo que escuta sem interromper e, logo, sem avisar que estamos colocando os pés pelas mãos, torna-se o mais fiel companheiro. Nos últimos anos, a sabedoria desta que vos escreve (baita pretensão), revogou a minha tese original sobre esta estranha simbiose entre cães e humanos.
Depois de conviver nos últimos quase três anos com raças diferentes e apaixonantes de cachorros, proclamo a mais nova e revolucionária teoria. Os cães são sim os melhores amigos dos homens porque estão sempre dispostos a doar, e sem exigir nada em troca, carinhos de todos os tipos. Ao contrário dos seres ditos racionais, os caninos oferecem afetos sem nenhuma intenção escondida no gesto. E são capazes de abandonar a mais confortável posição de sossego ao simples barulhinho de um “psiu” sem nenhum compromisso.
Os cães demonstram da forma mais pública e universal que gostam de seus donos. É só passar algumas horas fora do meu apartamento canino que ouço os latidos eufóricos do meu trio de cães assim que coloco o pé fora do elevador, ainda distante da porta de entrada. É só ficar uns minutinhos fora para tratar dos assuntos chatos na rua que o meu trio de cães quase me derruba no retorno como que a me saudar. E nada melhor para o dia começar iluminado e disposto do que os pulos e manifestações de felicidade do meu trio de cães quando eu acordo.
Claro que adotar cães, em qualquer lugar, exige responsabilidades que nem sempre todos estão dispostos a assumir. Os planos de férias precisam estar relacionados à grana extra para deixar os bichinhos em um bom e recomendado hotel. Os finais de semana no campo ou na praia devem obedecer a uma escala na família, a fim de que os animais não fiquem sozinhos. Os gastos que se somam com vacinas, banhos e veterinários. Sem falar no constrangimento das visitas ante a euforia receptiva dos meus cães.
Muitas vezes, minha filha Gabriela vem me informar que uma agenda nossa irá se encontrar. Nada muito longo, um período de uma tarde. E eu imediatamente indago: “mas quem ficará com os guris”? No caso, o Dalai, o mais velho, da raça shih tzu; o Gandhi, o do meio, da infernal raça Cocker; e o Ravi, o caçula, da maravilhosa e surpreendente raça Streeg Dogs. Sou daquelas radicais que não entende porque se abriga qualquer animal se não é para cuidá-lo dia e noite.

Mas como quem tem amigo cachorro quer sarna para se coçar, estou há uma semana sem um local confortável para sentar na sala. Devido aos ataques noturnos de afeto e carinho desmedido dos menores Gandhi e Ravi ao sofá, tive que mandar forrá-lo junto com um pufe antigo de outras residências. Fazer o quê? Nem tudo pode ser perfeito.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Ritual das madrugadas (*)


Chegas quando amanhece
e teu beijo fede a cerveja.
Teu corpo cai e enlouquece
sobre o meu que esbraveja.

Porque sabe o que acontece
quando voltas das madrugadas
e o cheiro de outra aparece
nas roupas que deixas atiradas.

Sempre tua boca me procura,
o teu braço na minha cintura:
meu rol de queixas emudece.

E depois da aventura na cama,
em seguida, logo te aborreces,
e foges, sem candura e ternura.

(*) Márcia Fernanda Peçanha Martins

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09 novembro, 2010

O sol de Porto Alegre (*)


O sol desta cidade
é lindo de todo jeito.
Ao nascer, se esparrama
pelo rio e ocupa Porto Alegre.
Com a sua claridade
acorda qualquer sujeito.
Que insistiu em madrugar
mas atende ao seu chamado.

Vindo da direção leste,
mostra o raio satisfeito.
Imagina que lá no horizonte
também chegam seus sinais.
O sol sempre se veste
com roupa de muito respeito.
E se duvidar, ele se apresenta
com traços de conquistador.

E quando ele vai embora,
insiste em ser mais perfeito.
De uma forma estonteante
mistura vermelho e laranja.
Não faz caso e se demora
para desaparecer lá no leito.
E como num passe de mágica,
perde-se numa curva do olhar.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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08 novembro, 2010

Juras e juras (*)

E se eu prometer
nunca mais fazer
cenas de ciúmes
ou te constranger
com minhas brigas?

Jurar de pé junto
não mais procurar
cheiros e perfumes
insistir no assunto
para te embaralhar?

Não cruzar o dedo
anulando as juras
manter os costumes
respeitar os segredos
nem ler os torpedos?

Ah, será que assim,
com tantas promessas,
você volta pra mim?

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Depois de tudo (*)


Ao entardecer na minha janela
e o sol partir para o descanso,
abandono o rumo da passarela
e recomeço o caminhar manso.

Não é preciso a rapidez do dia
e nem o ar de quem se atrasou.
A hora é de marcar a harmonia
e se apossar do que nos restou.

Comemorar a troca de carinhos
e abrigar os sentimentos nobres
que se perderam nos caminhos.

Deixar fluir as emoções contidas
e abafadas nas discussões pobres
em que enterramos nossas vidas

márcia fernanda peçanha martins

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04 novembro, 2010

Romance na primavera (*)

Tinha um sol de primavera
e um entardecer demorado
para apreciar minha espera:
a chegada do amor sonhado.

Junto com o aroma das flores
e o seu frescor ao desabrochar
trazia o ranço de antecessores
para dificultar o meu apaixonar.

E na carona da ventania leve
da primavera quando anoitece
apenas uma imagem tão breve

de um romance sem interesse
capaz de durar mais que a neve
dos invernos que nunca vivi.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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O preço da tal felicidade (*)


Desde pequena (e isto significa tempo) ouvir dizer que o dinheiro não compra felicidade. Que não adianta ostentar uma fortuna invejável e não ter amor. Que não é suficiente ganhar na Mega Sena sem esbanjar saúde. E nem receber uma herança familiar milionária sem ter com quem desfrutá-la. Como dizem que nada é tão relativo, um estudo feito nos Estados Unidos, descobriu que a tal felicidade dos mortais tem sim um preço. Aqui ou em solo norte-americano, com as devidas diferenças sociais e econômicas, a felicidade custa, em média, R$ 11 mil por mês.

Não se trata de um valor aleatório que a felicidade não é coisa para ser tratada sem precisão. Para saber como o dinheiro compra felicidade, estatísticos analisaram um banco de dados enorme nos Estados Unidos e concluíram que mais riqueza não significa, necessariamente, mais bem-estar e mais felicidade. E teve gente de nome envolvida no tal estudo. O Prêmio Nobel de Economia de 2002, Daniel Kahneman, coautor da pesquisa, diz que uma renda pequena potencializa dores emocionais relacionadas à divórcio, doença ou solidão.

Fica mais fácil ser feliz, conforme a pesquisa, quem é religioso, ganha mais de R$ 6.800,00 por mês, não é jovem, é casado, tem plano de saúde, filhos e curso superior. Exceto pelos três últimos itens, sou de uma infelicidade franciscana. E como tristeza pouca é bobagem, o estudo constatou que fatores como solidão, dor de cabeça, problemas crônicos de saúde, ser fumante, sustentar alguém da família, ser obeso e divorciado combinam perfeitamente com a infelicidade, em qualquer país. Deletando três itens desta lista de dissabores, sou uma pessoa extremamente infeliz.

Se você, assim como eu, concluiu, depois de conhecer os resultados do estudo, que é muito infeliz, não desanime. Antes de chegar ao fundo do poço e dizer que pesquisa é apenas amostragem e não vence eleição (porque as atuais são muito favoráveis as minhas escolhas políticas), saiba que você não está sozinho (ops, bingo da felicidade). No Brasil, apesar da aceleração do ritmo da redução da pobreza, existem atualmente 29,9 milhões de miseráveis (pessoas com renda familiar per capita mental de até R$ 137,00). Sem falar nos menos pobres, somos um País de infelizes.

Em resumo, o levantamento descobriu que o importante, para ser feliz, não é ser rico, mas sim não ser pobre. Fala sério. Que ter filhos traz felicidade. Mas muito mais feliz é aquele que tem plano de saúde e tem seus filhos sem entrar na fila do SUS. E mais feliz ainda é aquele que cultua alguma fé.

Querem saber? Apesar de pontuar muitos itens na lista da tal pesquisa, não me sinto uma pessoa infeliz por característica, nem em depressão fatal. E se tiver uma dor de cabeça, o incomodo será provisório, mesmo que necessite juntar os trocados para comprar remédios e mensalmente fazer sorteio das contas para pagar. Mas, como a fé remove montanhas, até para quem não a tem, acabo aqui a coluna bruscamente porque vou até ali no sofá ser feliz acarinhando minha filha. E, mais tarde, vou jogar na Mega Sena para tentar comprar produtos da minha felicidade.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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Já sei (*)


Sei onde começa o toque
e onde explode a paixão.
Sei o que levo a reboque
e o que não cabe na mão.
Sei do enredo da novela
e da final do campeonato.
Do namoro com cautela
e da promessa do candidato.
Posso falar com exatidão
de todos pecados do mundo.
E do que cala meu coração
quando passeia vagabundo.
E como tenho tanto poder
de pressentir o instante,
só quero mesmo é esquecer
minha história dissonante.


(*) márcia fernanda peçanha martins

De qualquer jeito (*)

Eu te quero de um jeito comum,
sem a complicação de equações
e sem a necessidade de regimes
que me proíbem até o desjejum.
Eu te quero a noite e toda manhã
com direito à hora extra semanal,
sorvete de morango com flocos e
samba enredo de escola bicampeã.
Eu te quero guri levado e sapeca,
que coleciona figuras de chicletes,
avesso a teoremas, leis e dogmas,
como se fosse um prêmio de loteca.
Eu te quero assim, tão idealizado
e tão sem fantasias, sem adereço.
Disposto a atender meus caprichos
sem precisar discutir meu preço.
Eu te quero meu eterno namorado
de todo romance no seu começo,
quando se pula juntos os abismos
e as piadas provocam gargalhadas


(*) márcia fernanda peçanha martins

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