Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

25 novembro, 2008

Uma traça

O barulho dos pingos da chuva
ritmados na vidraça
lembra a solidão
que não me abandona.

Meu corpo se remexe na cama
sem jeito e sem graça
com o ócio na carona
passeio feito uma traça.

Já não sei onde mora o desejo
misturado com ternura
e dose de testosterona
na noite ainda escura.

Eu te quero a qualquer hora.
Eu te busco e nem sei o preço.
Devora-me, agora, sem demora.
Sem afeto. Sem dor. Desprezo.

márcia fernanda peçanha martins

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Faxina Geral

Limpei todas as gavetas.
Tirei teu cheiro do armário.
Deixei tua mala no corredor
e evitei te ver partir no elevador.
Agora, ando pela casa, demente,
procurando um resto de perfume,
catando um resto da pasta de dente
que sempre deixavas sem a tampa.
Se começar a amar é tão de repente,
desamar tinha que ser diferente ?
Caminho tentando te encontrar
e a minha ilusão não pode acabar.
Coloco um CD e lembro teu rosto,
tomo um drink e não sinto o gosto,
porque tudo ainda traz teu calor,
vai ser um drama esquecer teu amor.

márcia fernanda peçanha martins

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21 novembro, 2008

De tanto te amar


Eu te amo em todas as horas do meu dia,
e em todos os sonhos que apareces à noite,
e em todos os estragos e em toda folia,
que tu fazes sempre que entras na minha rotina.

Eu amo tudo que desfila pela tua retina,
eu amo teu jeito revelado de fazer descaso,
e em todos os labirintos em que te amasso,
que me transmutam e me tiram a energia.

Eu te amo com roupa simples e com alegoria,
e em todas as peças da casa em que me desnudas,
e em todos os beijos pelas minhas partes carnudas,
quando me incendeias e me calas de desejo.

Eu te amo até mesmo quando nem te vejo,
eu amo quando fico acordada à tua espera,
e em todos os atos em que te recebi uma fera,
que me transformaram numa mulher passional.

Eu chego a te amar loucamente de tão irracional,
ah, eu amo as tuas ausências e as tuas esperanças,
ah, eu amo as tuas descrenças e as tuas lembranças,
onde nem sempre sou tua personagem mais real.

Eu nem sei o que não consigo deixar de amar em ti.
Amo o sorriso, o compromisso, o carinho de mansinho.
Amo o abrigo, o amigo, as mãos macias nos meus vãos.
Amo o olhar, o apalpar, teu corpo no meu encostadinho.

De tanto te amar, já nem sei o que ainda tenho em mim.
Abandonei um projeto de vida que sempre alimentei.
Abandonei um pouco a certeza e hoje nada, nada sei.
Apenas que te amar me torna uma colombina sem fim.


márcia fernanda peçanha martins

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20 novembro, 2008

Valeu, pessoas

Citar todos, poucos mas de fé, poderia me levar ao erro de esquecer alguém. Então, em nome da minha sobrinha/afilhada Camila, que prepara uma criança no ventre, e lá esteve, agradeço a todos que levaram seu abraço no lançamento e sessão de autógrafos do meu livro, dia 19/novembro, na Palavraria. Acreditem, vocês carregam uma parte do meu coração. E separei este trecho da música composta por Renato Teixeira e Almir Sater que, segundo o amigo Emanuel, no seu www.blog.emanuelmattos.com.br, é um hino à vida, para retribuir o afeto

"Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz E ser feliz"

márcia fernanda peçanha martins

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19 novembro, 2008

A mutação de Gabriela

Convido-te para passear
e recordo fatos da tua infância,
fazemos turismo de lembrança.
Senta na frente, na janela
que o roteiro tem belas imagens
e teu olhar guardará as paisagens.
Se possível, reclina o banco
para recostar o corpo já maduro
e ouvir o lado bonito e o obscuro.
Vou te apresentar a morada
em que ensaiaste o engatinhar
e aprendeste a balbuciar, falar.
Cruzaremos pela rua da creche
e te lembrarei da canção de natal,
da Prof.ª Denise, da água no quintal.
Não poderei te poupar ou calar
diante da primeira lágrima caída,
do tombo, da noite mal dormida.
Nem vedar ou mesmo silenciar
na tua mente as inúmeras discussões
e os gritos que encerram as relações.
Criança sapeca. Trejeito interrogador.
Nem tudo eu posso contar colorido.
Nem tudo teve o rumo bem definido.
Menina bonita. De olhar claro esperto.
Os dias cresceram. Não teve mais jeito.
Nessa parada, pode chorar no meu peito.
Adolescente em formação. Em inquisição.
Agora o nosso passado é mais eterno
e o futuro é um vizinho aqui perto.


márcia fernanda peçanha martins

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18 novembro, 2008

E agora, Dedé


Abracadabra felicidade (*) (**)
Nos primeiros meses do ano, escrevi aqui no Coletiva (***), na coluna intitulada “Dias melhores, dias de paz, dias a mais”, que um ano bissexto como o de 2008, teria sim dias muitos estranhos e imprevisíveis. Simples, uma folhinha a mais no calendário, na agenda, na programação. E, mais chance de reclamar, de brigar, de endividar-se e dizer “eu sabia que não ia dar certo”. Mas, iluminada pelos poderes da premonição (vejam só, poderia fazer aquelas previsões de final de ano para a grande mídia) também sentenciei que o dia a mais do bissexto poderia ser o atalho para o fermento da felicidade. Um dia a mais de coisas boas.
Valha-me Deus Nosso Senhor do Bom Fim! Não faça eu me contradizer com algum imprevisto que possa reverter minha euforia nos meses finais. Pois até o fechamento desta coluna (que coisa mais deadline e poderosa, perceberam?) o lado mais ocupado na contabilidade de 2008 é o positivo. Confesso que tentações para o mal não faltaram. Mas eu resisti e desafiei. Jamais desci dos saltos altos, mesmo que meus pés tenham tentado fugir do incômodo. Tudo pela elegância, diria minha grande e saudosa amiga Adri, “hoje nas Fortaleza”. Do meu ponto de vista, atingi um grau na vida que me permite conviver ou expulsar as coisas ruins.
Seja explícita Márcia Fernanda. Nem os embrulhos mais significativos foram suficientes para colocar tudo a perder, então pula esta parte. Como um ser totalmente equilibrado (que piada), no decorrer de 2008, tive um dia a mais para sorrir, abraçar os afetos, beijar familiares, acompanhar a evolução física e emocional da minha filha Gabriela Martins Trezzi, aplaudir as coisas certas de todos, rezar pelo bem do próximo e lembrar os amigos esquecidos de que ainda vivo. Como sei que historicamente assim caminha a humanidade, procurei enxergar mais o lado bom em tudo. Selecionar o prazer e “carpe diem”.
Quem pensa que enlouqueci (sou Napoleão), ou afundei no submundo das drogas (só os remedinhos de tarja preta), ou voltei a beber (nunca fui chegada) ou pedir a receita do chazinho que tomo matinalmente, não perca seu tempo! Se uma fórmula matemática existisse para a felicidade, eu não hesitaria em distribuí-la de graça. Mas, imbuída da auto-ajuda, passo algumas dicas para os leitores. A felicidade pode estar ao seu lado (não olha agora pro vizinho do ônibus ou lotação, por favor!). No encontro mágico, no entrelaçar de braços de seu filho, no dia de sol, no dia de chuva. Depende de como você quer a sua vida.
Com o tempo, a gente aprende que não é o vivemos que importa, mas o modo como escolhemos viver. E, sob este ângulo, um simples dia de chuva passa a ter um enorme valor. Podemos escutar o barulho dos pingos caindo, ficar um pouquinho mais na cama (acompanhada ou não) achar graça do motorista sem noção que não desviou da poça e molhou nossa roupa, programar um cineminha ou um DVD, comer pipoca ou tomar um vinho. Faça a sua festa. Quando se vive com intensidade, as emoções se potencializam. E, daí, bem o resto pouco importa. Só mesmo para os pequenos de coração!
O bissexto terá no encerramento a conclusão de Gabriela no Ensino Fundamental (prometi não vou chorar como na formatura da creche e conto com a ajuda da Nossa Senhora Protetora das Mães Emotivas). O segundo ano sem internação hospitalar (embora a doença me mantenha afastada do Correio do Povo), o carinho dos amigos de fé (Lili, Jorge, Soninha, Marcela, Neneca, Lessa e Carlinha, pela Saudosa Maloca). Ah, teve a encomenda de um sobrinho-neto. Quer mais? Os amigos que espero na sessão de autógrafos do livro coletivo “Antologia Poemas à Flor da Pele”, no dia 19, a partir das 19h, na Palavraria
.
(*) bem, agora eu queria você aqui, Dedé, Dédi ou Luli
(**) márcia fernanda peçanha martins)
(***) publicada originalmente no site www. coletiva.net no dia 12/nov/2008

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A continuação ou como tudo se seguiu

Sobrevivemos (*)(**)
Estranho começar uma crônica de forma tão clichê. Mas a emoção fala mais alto quando se trata de sentimentos. Parece que foi ontem. Tudo está vivo na memória. Uma gripe muito forte e persistente. A mãe saindo correndo contigo no meio da madrugada de segunda-feira para te levar ao hospital. E mais tarde, a internação na UTI. Os dias passando e a certeza de que não voltarias mais a distribuir carinhos e sorrisos para todos, pelo menos nesta encarnação. Um ano depois, tudo ainda é forte e pulsa como se estivéssemos esperando que nada tenha acontecido.
Deus do sol, levando luminosidade por onde passavas; amigo e irmão inseparável, a ponto de deixar os manos mais velhos (Sílvia, eu e Nando) inconsoláveis e órfãos; filho exemplar e insubstituível, abrindo uma saudade incurável na nossa mãe; dindo de todos que te veneram (não só a Mila e a Bibi, tuas afilhadas, mas também o Rafa, sobrinho), partiu uma segunda após o Dia das Mães de 2003.
A saudade corta e está sempre se intrometendo nos nossos sentimentos e as lágrimas não secam, desde o dia 12 de maio do ano passado, quando Luis Fernando Peçanha Martins, então com 37 anos, publicitário de renome no mercado e respeitado por todos, faleceu.
Luli no meio publicitário é lembrado até hoje. Sempre que é preciso se pensar no melhor espaço para determinada mídia, função que ele desempenhava com perfeição na Paim Comunicação. Sempre que o Grupo de Mídia, o qual ele foi um dos incentivadores de sua retomada, se reúne. Sempre que é preciso uma solução urgente para um anunciante nervoso. Ou quando seus colegas da Paim saem para almoçar na Torta de Sorvete e lembram que precisavam espera-lo porque ele tinha ainda mil coisas para terminar. Um nome sempre em evidência no mercado publicitário seja pela sua carreira meteórica e eficiente, pela sua mania de perfeição, pelos afetos que distribuía ou seu jeito meigo de resolver as coisas.
Dedé ou Dédi para os familiares é insubstituível. Muita coisa mudou. Não existem mais almoços de domingos, nem e-mails de bom dia inundando a minha caixa de mensagens, nem os telefonemas de noite para saber da mãe, nem os passeios com as afilhadas, nem o afeto mais profundo que sempre demonstrastes pelo mano Nando e a cunhada Flávia ou a eterna preocupação com a Sílvia.
Mas a família tenta manter-se unida, principalmente, porque sabíamos que esse era o teu desejo. Vivemos um luto permanente, alternando dias mais tristes com menos tristes. A alegria, definitivamente, deixou de ser nossa inquilina. E até mesmo a brejeirice dos nove anos de Gabriela cala-se com muita freqüência pensando em ti. Sobrevivemos porque sabemos que partiste sem dor, sem sofrimento, em paz. Porque sabemos que anjos da guarda, como tu, permanecem sempre nos olhando. E, principalmente, porque acreditamos que um dia iremos todos nos encontrar.
(*) esta saiu um ano após, em maio de 2004, já no site www.coletiva.net, onde eu publicado esporadicamente alguns artigos

(**)Márcia Fernanda Peçanha Martins, jornalista, irmã de Luis Fernando Peçanha Martins,Luli ou Dédi, falecido no dia 12 de maio de 2003. assim foi assinado na época

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Como tudo recomeçou

A coleção de Luli (*)(**)
Intrigante meio de comunicação social em que se vive e se imagina que todos os seus profissionais são desprovidos de sentimentos e convivem habilmente com a frieza. Afinal, se para se correr atrás de uma boa notícia, se criar uma propaganda genial ou conseguir um bom relacionamento com alguma empresa, por vezes, se finge um distanciamento do mundo que pulsa, na realidade, jamais conseguimos nos desligar de tudo que punge, tange, sufoca, inunda, transborda, respira, transpira. É a falsa frieza da classe. A perda prematura e irreparável do gerente de mídia da Paim Comunicação e vice-presidente do Grupo de Mídia do RS, Luis Fernando Peçanha Martins, com 37 anos, falecido no dia 12 de maio, é a prova mais contundente de que o meio de comunicação social é onde residem os mais nobres sentimentos, com o perdão das demais profissões.
Luli, como era conhecido no meio publicitário, antes de passar pela Standard, SL&M e terminar nas planilhas de mídia da Paim, sentou-se nos bancos da Engenharia Civil da UFRGS, quando percebeu que aquele mundo não tinha nada a ver com ele. E alguém que tenha convivido com o Luli por mais de um dia duvida disso ? Não. A vida dele era o efervescer do meio publicitário, a corrida pela inserção do anúncio no veículo certo e com o melhor preço possível, o troféu obtido como mídia do ano no Salão da Propaganda (que eu mesma noticiei), o agito dos cafés da Padre Chagas, da Tobias da Silva, da Luciana de Abreu e suas redondezas, bairro que abriga a Paim, a preocupação em chegar na hora exata nas reuniões e a busca pela perfeição.
Profissional competente, respeitado e admirado por todos (clientes, agências e veículos), Luli tinha uma característica que contrasta com a suposta frieza com a qual costumam rotular os profissionais dos meios de comunicação social. Ele colecionava amigos. Assim, simples. Como quem faz coleção de incensos, imãs de geladeiras, carrinhos antigos, tudo isso aí, não tem nada a ver com ele, é claro. Não, Luli tinha que ser diferente e colecionar amigos. Eram tantos, tão verdadeiros, fiéis e companheiros que o transformaram em uma das pessoas mais ricas do mundo. A verdadeira riqueza de uma pessoa só pode ser medida pela qualidade de seus amigos. E eles são inquestionáveis e estão todos guardados no coração dos familiares do Luli, no lado esquerdo do peito, com certeza.
Como irmã do meio, conheci o Dedé (apelido familiar) antes do Luli e foi paixão à primeira vista, pois somente uma pessoa como ele seria capaz de dormir ouvindo-me desafinar cantigas de ninar (ou será que ele desmaiava ?). Mais tarde, conheci o Dedé amigo e companheiro, sempre pronto a oferecer o ombro. Enquanto atuava como setorista de publicidade e propaganda na Economia de Zero Hora, no início da década de 90, passei a respeitar o profissional e conheci o Luli. Com o fim do casamento de minha mãe, conheci um filho exemplar. E, com o nascimento de minha filha Gabriela, do qual ele era padrinho, conheci um anjo, que hoje brilha no céu estrelado da minha bela cidade.
Por isso, amortecida um pouco pela ausência de seu riso fácil, de suas novidades ao pé do ouvido, de suas idas no parque com a Gabriela, pela saudade de seus inúmeros telefonemas para a casa da mãe à noite, dos seus e-mails na minha caixa postal, de sua falta no almoço de domingo, tomei coragem para escrever como quem conhece a pessoa e o profissional. Não é fácil separar as coisas. E, agradecer o apoio do pessoal da Paim e de todos os amigos (e não vou citar ninguém para não correr o risco de esquecer alguém). E, dizer, se isso pode deixá-los mais tranqüilos, que ele já está cumprindo sua nova missão no mundo espiritual (compartilhávamos também da mesma religião). E, tenho certeza, que ficará feliz se a sua família conseguir manter intacta a sua coleção de amigos.


(*) com este texto, publicado na revista Press, em junho de 2003, um mês após a morte do meu irmão, que voltei a escrever
(**) escrito por Márcia Fernanda Peçanha Martins, 42 anos, jornalista, irmã de Luis Fernando Peçanha Martins. assim saiu assinado na época

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16 novembro, 2008

Lançamento livro Antologia "Poemas à Flor da Pele"


POETAS DO ORKUT LANÇAM LIVRO

Antologia “Poemas à Flor da Pele”, que reúne mais de 70 poetas de todo o Brasil, começa a ser vendida na capital.

O lançamento da obra, com mais de 350 poesias representando diferentes regiões do País, ocorrerá, no dia 19, a partir das 19h, na Palavraria (Livraria-Café), rua Vasco da Gama, 165. Em formato poket foi elaborado pela comunidade do Orkut denominada “Poemas à Flor da Pele”, criada em 2006 e hoje com mais de 1500 membros. A publicação foi apresentada no XVI Congresso Brasileiro de Poesias, realizado no início de outubro, em Bento Gonçalves.
Duas poetas (*) confirmaram presença no lançamento, seguido de autógrafos e coquetel. A relações-públicas Soninha Porto, administradora da comunidade e grande incentivadora da difusão da poesia, e a jornalista Márcia Fernanda Peçanha Martins, licenciada do Correio do Povo, colunista do
www.coletiva.net e moderadora da comunidade. Em comum, a paixão pelas letras, rimas, versos e a vontade de espalhar poesia.
Soninha diz que a obra é mais do que um trabalho concluído. “É um caminho que pretendemos consolidar, levando a comunidade ao interior do Estado e fazendo encontros nas capitais”. Márcia, também autora do prefácio do livro, afirma que as poesias são gostosas de ler, porque misturam rimas fáceis e estranhas, pueris e sensuais, de indignação e prazer. E aconselha: “leia de qualquer jeito, de trás prá frente, pule páginas, aprecie, mas não deixe de ler”.

(*) a palavra poeta, no lugar de poetisa, é aceita hoje pelos gramáticos mais modernos

O QUE: sessão de autógrafos
QUANDO: 19/novembro, a partir das 19h
ONDE: Palavraria (rua Vasco da Gama, 165)
POR QUE: Você não vai se arrepender

Informações:
Soninha Porto (heisoninha@gmail.com)
Márcia Fernanda Peçanha Martins (
marfermartins@hotmail.com)

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Briga da Natureza


Briguei com o sol.
Não saio ao dia.
Borboleta sem asas
espanto a alegria.
Quem seria o maluco
a entrar na minha casa ?
Um casulo sem parede,
sem comida e sem rede ?

Eu sem vontade e tão falsa!
Eu que não ando à toa,
brinco agora de mãe natureza.

márcia fernanda peçanha martins

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As meninas do Brasil


Gabriela é guria gulosa,
sempre às voltas com um brigadeiro,
remexe-se e suja a roupa nova.
Desfila sua beleza ansiosa,
e expõe para todos o sorriso faceiro
pelas calçadas do Rio de Janeiro.

Camila é menina cheirosa,
embriaga-se no meio dos perfumes,
e conquista o povo de Brasília.
Gosta de rock’roll e de bossa,
tira de letra as fofocas e os ciúmes
e divide seu tempo com a família.

Berenice, garota esperta,
fala só o que pensa sem briga,
mas rejeita o rótulo de tagarela.
Diz que é sempre a mais certa
e se irrita quando Júlia, sua amiga,
conta das artes lá em Curitiba.

Lá no Nordeste, a meiga Joana.
não se preocupa com as meninas
que zombam nas esquinas de Recife.
Melissa, que lhe escreve por email,
com outras amigas de Teresina,
não aceita desaforo nem do chefe.

Em Porto Alegre, Manaus ou Maceió,
Floripa, Aracaju,Cuiabá ou Natal,
nascem de cesaria ou parto normal,
as meninas que passeiam quase sós.
Uma Maria, outra Ana, Beth ou Vitória
a desenhar o Brasil, seu solo e história.


márcia fernanda peçanha martins

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13 novembro, 2008

Sexo e suas tramas

Encosta
teu hálito masculino
na minha nuca
que logo te incrimino,
te azucrino e te ensino
com meu ar libertino
de fêmea maluca.

Sussura
tua proposta excitante
no meu ouvido
que já te mostro ofegante,
meu sexo amante diante
do teu cheiro alucinante
de homem bandido.

Envolve-me
com teu vigoroso abraço
na minha cintura
que faço um estardalhaço,
e te ganho no embaraço
no cansaço e te satisfaço
gemendo de loucura.

Invade
todo meu espaço vazio
esparramado na cama
e uivo como gata no cio,
te acaricio e te asfixio
e o meu doentio desafio
é ser tua vadia e mucama.


márcia fernanda peçanha martins

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Quintana, Drummond e Gabriela (*)


À sombra de algumas paineiras, ipês e jacarandás, que se encontram em plena floração nesta época, empilhados criteriosamente lado a lado ou misturados propositalmente sem organização nas caixas de madeiras, apelidadas de sebos, os livros invadiram a Praça da Alfândega e os habitantes e turistas de Porto Alegre. No centro histórico da capital gaúcha, as barracas dos ambulantes fecharam as páginas e cederam lugar às bancas de livros. As trabalhadoras do sexo só atuam no epílogo deixando as calçadas para os amantes da literatura. E o odor desagradável que impregna a praça foi substituído pelo cheiro de livros novos e antigos.
Como co-autores, a 54ª Feira do Livro de Porto Alegre, que já se incorporou ao calendário oficial da cidade na primeira quinzena de novembro, tem as assinaturas do prédio histórico do Santander Cultural, do MARGS, da agência central do Banrisul, o Rua da Praia Shopping. O solo que abrigou, a partir do final do século XVIII, o antigo porto fluvial da cidade, exibe com orgulho, desde 1955, a tradicional Feira do Livro, conquistando milhares de visitantes que procuram os lançamentos, as ofertas de livros novos ou usados a preços atrativos. Até o dia 16 de novembro, a praça tem uma única e poderosa dona: a literatura.
Mesmo que você, meu leitor, não disponha de dinheiro sobrando porque é comum o salário ser menor que o mês, não se acanhe e arrisque um breve passeio pela Praça da Alfândega. Se você não conseguir pechinchar (e este é um dos verbos mais usados na feira), caminhe pelos atalhos desconhecidos da praça e encontre aquele velho amigo da faculdade, admire o chafariz, faça um lanche nas redondezas e repare no sorriso daqueles que deixam o local com as sacolas cheias de livros. Quem sabe observe as enormes filas que se formam para os autógrafos em volta do palco central da feira? Ou toque nos manuscritos mesmo sem comprá-los?
Sem medo de ser chamado de louco, faça uma singela reverência aos monumentos e às esculturas do local, saudando Barão do Rio Branco e do General Osório. A praça, que teve obras de prospecção arqueológica, no ano passado, é uma senhora muito simpática, generosa, quase uma tia daquelas dos idos dos anos 70 e 80, sempre pronta para ouvir e dar conselhos, servir um café quentinho com bolachas amanteigadas, oferecer um banco para descansar e espalhar o perfume das flores singelamente pelo ambiente. Mas, duvido que, embaralhado com tantos títulos de livros, alguém se despeça da feira sem uma única aquisição.
Nas palavras do escritor Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”, o que talvez justifique a nossa crescente e gulosa vontade de ler e ler cada dia mais. Não possuo a biblioteca que eu gostaria em termos de quantidade e até de qualidade porque sempre estive equilibrada ou enforcada nas finanças. Mas, dos volumes que tenho e que, apesar de toda maravilha internética, ainda gosto de sentir o papel roçar meus dedos, os que mais amo foram comprados na feira. Os do Caio Fernando Abreu, do Ruy Castro, do Fernando Moraes, do Caco Barcellos e uns exemplares raros de autores antigos. Das feministas. Dos poetas.
Gabriela Martins Trezzi, que todos sabem tratar-se de minha filha, já anda com uma listinha das suas prioridades. E ouviu da mãe (essa mesmo que vos escreve) que teria que segurar sua ânsia consumista até o dia do meu pagamento. A adolescente triesperta e sabedora da data em que minhas finanças estão recheadas, está desde o final de semana perguntando quando chega do colégio: “mãe, que dia é hoje?”, como se ela não visse a data atual nas páginas do jornal ou não anotasse nos seus cadernos. Na terça (4 de novembro), no final da tarde, ela completamente eufórica: “oba, amanhã podemos ir à feira”.
Depois desta, imagino o que o gaúcho Mário Quintana soprou no ouvido do poeta Carlos Drummond de Andrade, ambos retratados em esculturas realizadas por Xico Stockinger no monumento que enfeita a praça onde os dois aparecem conversando. O poeta nascido em Alegrete falou para Drummond: “o livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado”. E o mineiro endossa: “a leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede”.
(*) márcia fernanda peçanha martins

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O ciclo

Não era mais dor o que sentia.
Um misto de força e covardia,
como se ali findasse um ciclo.
Queria prosseguir e persistir.
Ou estagnar, parar, desistir,
mas não aceitava a decisão.
Nem a indecisão era a parceira.
Nem a lágrima corria derradeira.
Só o ontem vestido de presente.
Ela trazia de outros amores,
os ciúmes, os beijos e dores.
E não sabia sorrir a toda gente.
Calejada. Desarmada. Mal amada.
Dolorida. Entusiasmada. Namorada.
Plantou o futuro à flor da pele.

márcia fernanda peçanha martins

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09 novembro, 2008

Tecendo Arte na Rede (*) (**)

Faço muita arte e vou tecendo amigos que, com o tempo e o amor, se enrolam na minha rede.

Levo o tempo a fiar, tecer e amar,mas ainda me afogo, sem arte,na rede dos meus desencontros.

As rimas são fios que tecem meus versos na rede.

Trocamos carícias na rede em que mais tarde tecemos um amor com arte.

Sentimentos se embalam na rede onde nós dois tecemos a arte do amor!

Costuro versos e teço afetos na arte de viver!

Na rede dos sentimentos, os versos tecidos imitam a arte.

Na rede do terraço, teci versos do nosso amor com arte.

Hoje, a arte vestiu-se de amargura e escondeu os sentimentos na rede.

No balanço da rede, deito meu corpo mulher, enquanto me teces na arte do amor.
Perdi um pouco da esperança que naufragou na rede. Agora teço desencantos sem arte.
(*) Tecendo Arte na Rede é o blog de uma comunidade do Orkut que reúne pessoas de vários locais do Brasil dedicados a alguma forma de cultura/arte. Mensalmente, é feita uma seleção entre os próprios membros para escolher a melhor frase do período sobre Tecer, Arte, Rede de Amigos, Amor, Entregas, Descobertas e Palavras. A frase escolhida permanece até a nova votação na abertura do blog da Tecendo, que é www.tecendoartenarede.blogspot.com
(**) as frases acima são de minha autoria
márcia fernanda peçanha martins

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Anja e Bruxa


Caminha comigo
dia santo ou dia útil
meu lado angelical
que é como um abrigo.
Não deixa nada fútil
perturbar meu ideal.

Acorda sempre tarde
espreguiça-se e alonga
e repete os movimentos.
Se a rotina é sem arte
a luzinha boa logo aponta
para dormir os sentimentos.

À tarde, seus dedos teclam
e ditam o que devo escrever
como se fossem meus donos.
Mas quando os sinos eclodam
anunciando o entardecer
o anjinho sai. É meu abandono.

Logo me sinto agitada
e reconheço a chegada
dos cheiros das bruxarias.
Danço e canto alucinada
sem vergonha e cadenciada
rodo ao som das gritarias.

Deito-me na cama oferecida
e sei que ela dá as diretrizes
para o homem se esfregar.
Desnudo-me quase vencida
e aceito os toques e deslizes
do macho a me extasiar.

Todo final de madrugada
ouço longe a sua gargalhada
para provocar a vizinhança
que espia pela vidraça
o motivo de tanta graça
de causar inveja a criança.

Convivo com elas.
Sem briga ou atrito.
Cada uma no seu espaço.
Mudas ou tagarelas.
Em tom alto ou grito.
Deitam-se no meu braço.

A angelical cochila acarinhada.
A bruxa incendeia minha morada.
Se o ar está puro, minha anjinha.
Se o teto gira, é a vez da bruxinha.

márcia fernanda peçanha martins

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