Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

28 março, 2009

Diploma Já

Manifesto à Nação
Em defesa do Jornalismo, da Sociedade e da Democracia no Brasil
A sociedade brasileira está ameaçada numa de suas mais expressivas conquistas: o direito à informação independente e plural, condição indispensável para a verdadeira democracia.

O Supremo Tribunal Federal (STF) está prestes a julgar o Recurso Extraordinário (RE) 511961 que, se aprovado, vai desregulamentar a profissão de jornalista, porque elimina um dos seus pilares: a obrigatoriedade do diploma em Curso Superior de Jornalismo para o seu exercício. Vai tornar possível que qualquer pessoa, mesmo a que não tenha concluído nem o ensino fundamental, exerça as atividades jornalísticas.

A exigência da formação superior é uma conquista histórica dos jornalistas e da sociedade, que modificou profundamente a qualidade do Jornalismo brasileiro. Depois de 70 anos da regulamentação da profissão e mais de 40 anos de criação dos Cursos de Jornalismo, derrubar este requisito à prática profissional significará retrocesso a um tempo em que o acesso ao exercício do Jornalismo dependia de relações de apadrinhamentos e interesses outros que não o do real compromisso com a função social da mídia.

É direito da sociedade receber informação apurada por profissionais com formação teórica, técnica e ética, capacitados a exercer um jornalismo que efetivamente dê visibilidade pública aos fatos, debates, versões e opiniões contemporâneas. Os brasileiros merecem um jornalista que seja, de fato e de direito, profissional, que esteja em constante aperfeiçoamento e que assuma responsabilidades no cumprimento de seu papel social.

É falacioso o argumento de que a obrigatoriedade do diploma ameaça as liberdades de expressão e de imprensa, como apregoam os que tentam derrubá-la. A profissão regulamentada não é impedimento para que pessoas – especialistas, notáveis ou anônimos – se expressem por meio dos veículos de comunicação. O exercício profissional do Jornalismo é, na verdade, a garantia de que a diversidade de pensamento e opinião presentes na sociedade esteja também presente na mídia.

A manutenção da exigência de formação de nível superior específica para o exercício da profissão, portanto, representa um avanço no difícil equilíbrio entre interesses privados e o direito da sociedade à informação livre, plural e democrática.

Não apenas a categoria dos jornalistas, mas toda a Nação perderá se o poder de decidir quem pode ou não exercer a profissão no país ficar nas mãos destes interesses particulares. Os brasileiros e, neste momento específico, os Ministros do STF, não podem permitir que se volte a um período obscuro em que existiam donos absolutos e algozes das consciências dos jornalistas e, por conseqüência, de todos os cidadãos!

FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas
Sindicatos de Jornalistas de todo o Brasil

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26 março, 2009

Pela informação qualificada

SOU JORNALISTA POR FORMAÇÃO (*)
O 1º de abril, marcado no calendário mundial como o Dia dos Bobos, começou a ganhar fama no Brasil, em Pernambuco, em 1848, quando ocorreu o lançamento do jornal “A Mentira”, informando a morte de Dom Pedro, desmentida no dia seguinte. De vida breve, o periódico saiu pela última vez em 14 de setembro de 1849, convocando seus credores para o acerto de contas no dia 1º de abril de 1850, num local inexistente. E desde então, atire a primeira pedra quem nunca aplicou uma pequena mentira e se justificou, depois, dizendo que era “brincadeira de 1º de abril”.
Em nome da informação qualificada, de um jornalismo democrático, exercido com responsabilidade e ética, é que os jornalistas de todo o Brasil precisam unir-se em defesa da exigência do diploma como requisito para o exercício da profissão. E evitar que três séculos depois, o dia 1º de abril fique conhecido como a data em que o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a extinção da profissão do jornalista. E na carona, o fechamento de milhares de cursos de comunicação no País. O desespero de universitários que sairão formados em coisa nenhuma. A informação não apurada para a sociedade.

Ao julgar o Recurso Extraordinário sobre a constitucionalidade da exigência do diploma em curso específico para exercer a profissão de jornalista, o STF ameaça uma das conquistas mais importantes da sociedade: o direito à informação independente e plural. A formação superior é uma conquista dos jornalistas, depois de 70 anos da regulamentação da profissão e mais de 40 anos da criação dos cursos de Jornalismo. Na prática, a não obrigatoriedade do diploma significa que qualquer pessoa, mesmo sem terminar o Ensino Fundamental, pode exercer as atividades jornalísticas.

Mais do que um retrocesso perigoso na democracia e na qualidade da informação, a decisão do STF pode abrir um precedente irreversível direcionado a outras profissões que exigem nível superior. E se um belo dia, uma juíza, do alto de seu saber teórico e notório, fechada no seu gabinete, entender que não é preciso ter formação superior para ser assistente social, nutricionista, fisioterapeuta, enfermeira e outras profissões? Vamos assistir tudo de braços cruzados? E deixar que decidam por nós quais as profissões exigem um aprendizado apurado?

Não se trata, apenas, de uma luta corporativista, como alguns podem julgar, a preocupação das entidades de trabalhadores de jornalistas com a sessão do STF no dia 1º de abril. É a inconformidade com a perda de um direito que todo cidadão brasileiro tem de receber informação apurada por profissionais capacitados, com formação teórica, técnica e ética. É a punhalada que pode ferir a liberdade de expressão e comprometer, no futuro, a continuidade de inúmeras outras profissões. É a não repetição de mentiras como a morte de Dom Pedro e nem a invenção de locais inexistentes para receber dívidas.

Resta acreditar que o bom senso irá prevalecer e que o País seguirá na trilha de um jornalismo profissional em aperfeiçoamento, para melhor informar a sociedade. Pedir que Hugo de Grenobble, Venâncio, Ludovico, Valério, Teodora, Teodorico e Pavoni, os santos de 1º de abril, iluminem os ministros do STF. E que a história, narrada no poema do fluminense Eduardo Alves da Costa, não encontre amparo na decisão do STF: “... Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já não podemos dizer nada”.
(*) márcia fernanda peçanha martins

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23 março, 2009

Descanso na montanha (*)

A montanha densa
e a neblina gelada
sepultaram a madrugada.
Sem cor e disforme
a lua se foi calada
e me deixou abandonada.
Namoro se dissolveu
e eu tão apaixonada
agora estava deslocada.
Nem o resto de jasmim
sem cheiro e amassada
refazia minha caminhada.
A noite passou de vez
e sua cor renovada
só me fez assombrada.
Pálido de tanto medo
o sol nasceu encabulado
e estacionou ao meu lado.
Engasgada de desejo
perambulei desmiolada
sem nunca saber a estrada.
Na mesma montanha,
com a lua descansada,
sem noite apadrinhada,
eu deitei paralisada.
E o sol com testemunha,
aparecendo na murada,
acolheu minha ninhada,
eu renasci revigorada.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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17 março, 2009

Sexo nos sentidos (*)

Teu corpo todo dourado,
esparramou-se sobre a cama,
deixando um cheiro selvagem.
Teu peito recém tatuado,
ressuscitou a apagada chama,
e convidou para nova vadiagem.
Tua perna cruzou na minha,
teu hálito esquentou o pescoço,
e o desejo ficou incontrolável.
A língua passeou geladinha
e começou a causar um alvoroço,
despertando o tesão insaciável.
Horas e horas de gemidos,
fermentaram o sexo dos amantes,
durante a madrugada de outono.
Deixou alerta os sentidos,
depois de momentos excitantes,
largou-me no canto, num abandono.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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15 março, 2009

Em homenagem ao Dia Nacional da Poesia, 14 de março

Tantas rimas (*)

Faço poesia
e uso tantos sinônimos
para falar de amor.
Meus versos
são feitos de homônimos
para chorar a dor.
Com as rimas
me faço de desentendida
e nem sempre combino.
Nem muito importa.
Tanta palavra.
Nem se comporta.
Mas se abre na poesia.
Como uma abelha rainha
ou uma rapariga vadia.
Nem muito interessa.
Pouco nexo.
Nem mesmo se apressa.
Mas se mostra na poesia.
Como um leão faminto
ou um sexo sem sentido.
Faço poesia.
Se rimo amor com dor
e paixão com solidão.
É pura alegria.
Apenas,
faço poesia.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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14 março, 2009

Eu não tou legal (*)

Cenas do cotidiano protagonizadas por diferentes pessoas, em pleno século XXI, nestes dias de março, que deverá fechar o verão com promessas de vida no meu coração, enriqueceram de felicidade a minha mente e coração. Mas, também, impregnaram de ceticismo a minha razão e emoção. Será que tudo que fizemos foi em vão? Será que ainda estamos longe, como cidadãos, de decidir o destino de nossas próprias vidas? Será que ainda precisaremos queimar sutiãs e cuecas em praças públicas? Será que não é só a mulher, por sangrar todo o mês, o único bicho esquisito deste planeta?
São perguntas que não calam e se acumulam porque as respostas que seriam acalentadoras sofrem todo o dia algum contratempo. E sempre que isto ocorre, parece que começamos do zero, do século passado. Numa comparação simplista é como se voltássemos a engatinhar depois de dirigir automóveis por aí. Lembrei de “Eduardo e Mônica”, música de Renato Russo e sua Legião Urbana, e sinto que habito um “mundo estranho, com gente esquisita, eu não tou legal, não agüento mais birita”.
No sábado à tarde, três amigas com mais de 40 anos e decididas na suas vidas profissional e particular, reunidas no apartamento de uma delas, debatiam com argumentos quentes e convincentes o que é uma mulher feliz nos dias de 2009. Se é preciso casar cedo e ter uma prole imensa de filhos ou não tê-los? E aí, como sabê-los, já dizia o mestre Vinícius de Moraes. Se é melhor não casar e viver intensamente sem falsas mentiras ou ainda acreditar naquele sapo que se transformará no príncipe encantado? Fala sério! E quem sabe, apostar todas na carreira (profissional) e o resto que aconteça?
Márcia, inquieta sempre rebelde (eu posso me acusar), e suas amigas desconhecem as respostas. Misturando palpites, refrigerante e o Best totozinho, elas perguntam “quem um dia irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração”. E, pasmem. Os nossos pais também não tinham as respostas. Mas pela liberdade de pensamento imposta na época, conviviam com rótulos que lhes satisfaziam. A “solteirona” não casava e encalhava porque não tinha dotes visíveis muito favoráveis. A que não engravidava tinha o útero seco, imaginem! Melhor nem dizer o que falavam da mulher que trabalhava fora.
As amigas tentaram revolucionar os seus lares até que o marido da anfitriã chegou todo faceiro do estádio com a vitória do Inter. As duas gremistas resolveram vazar. Sabem como é, antes que rolasse aquela flauta conhecida. No jornal da noite, Márcia se irrita profundamente ao ouvir as explicações dos bispos e arcebispos para justificar a excomunhão, penalidade máxima da Igreja Católica, aplicada às pessoas envolvidas no aborto da menina de nove anos, violentada pelo padrasto em Pernambuco. E chora muito ao pensar na criança barriguda carregando filhos gerados num ato tão brutal.
No domingo, enquanto a filha passeava com suas amigas no Brique, Márcia arrumou toda a casa, trocou a comida dos cachorros (sim, eu quero sarna para me coçar e agora além do Dalai tenho o Gandhi), atualizou a lista do chá de fralda da Camila, sobrinha barriguda de 21 anos que vai parir Lohana, adiantou o almoço, refez a tintura no cabelo para disfarçar os brancos. E se banhou ao som da Maria Rita, cantando “minha força não é bruta, não sou freira nem sou puta, porque nem toda feiticeira é corcunda, nem toda brasileira é bunda, meu peito não é de silicone, sou mais macho que muito homem”.
Surpreendida com a chegada de minha filha Gabriela do Brique, com uma amiga cuja mãe não apareceu para buscá-la, usei de toda minha inabilidade culinária para aumentar a comida. Enquanto esperava o tal angu ficar pronto, recebi um telefonema de uma integrante da Confraria de Brasília, desejando-me “Feliz Dia Internacional da Mulher”. Só aquela gringa para tal mimo, pensei. E não parei de rir, gargalhar, sei lá se de prazer, alegria, tristeza ou choque de realidade, o resto da tarde. Quer dizer, até a nova derrota do Imortal Tricolor.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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08 março, 2009

Pelo Dia Internacional da Mulher (*)

JOANA
Joana bateu o ponto às seis.
Seu relógio mostra que já é hora,
de fazer fila e esperar a condução.
Emburrada pega o ônibus da vez,
e consegue um lugar sem demora,
no trajeto, alimenta-se de ilusão.

Joana é morena de boca carnuda.
Seu corpo remexe num requebrado,
de deixar muito homem embasbacado.
Nem sempre se mostra desnuda,
tem vergonha de tanta marca e arranhão,
mas vai ficando ali, quase sem ação.

Joana trabalha em mais de um turno.
Cedinho da manhã, arruma os filhos.
E no tanque, lava roupa aos quilos.
Apronta a comida para o noturno
e sai correndo para faxinar, limpar,
passar, enxaguar, engomar, cozinhar.

Joana é bonita de olhar expressivo.
Seu quadril sobe a vila num rebolado,
de deixar muito guri todo excitado.
Nem sempre ri de um jeito abusivo,
tem medo de tanto roxo e tanto raspão.
e continua ali à noite levando sopetão.

Joana é linda. Joana é feminina.
Joana é mais uma que escreve a história
de muitas mulheres que tem na memória
o som de uma surra que não termina.

Joana quer um fim.
mas não muda o começo.
Re-escreve seu folhetim
e aceita o mesmo cortejo
sempre que se oferece
sem pudor ao seu desejo.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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(*) Dentro de mim


A hora já passou.
Não tem mais lua cheia.
Nem voz para serenata.
E o ar ficou intolerável.
O cinema acabou.
Não tem bruxa ou sereia.
Nem verdade ou cascata.
Um enredo inexplicável.

A comida estragou.
Não sobrou uma migalha.
Nem restou a aguardente.
Venceu o lado apático.
O sexo estacionou.
Não sobreviveu à batalha.
Nem o ardor adolescente
reverteu o marasmático.

Se o carinho desandou.
Não há mais entrelaços.
Nem toques de ternura.
O deslumbramento se desfez.
É o fim. Não prosperou.
Não resistiram os abraços.
Nem bastou tanta candura.
Nada alterou toda insensatez.

Desapareça em recolhida
e saia rápido de dentro de mim.
Não posso abrir a guarida
com seu cheiro de botequim.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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06 março, 2009

Sexo frágil ainda luta (*)

O despertador toca, pela primeira vez, às 7h30min, pequena armadilha que adotei há algum tempo para me enrolar mais na cama e ficar dormitando até às 8h. Nesse segundo alarme, não há mais tempo a perder e qualquer esboço de armadilha pode ser fatal. Após ouvir, pelo rádio, as primeiras notícias, automaticamente, a porta do banheiro abre-se para me receber para a higiene do amanhecer. Em instantes, já me encontro na cozinha, sorvendo um café rápido e nada balanceado, intercalado por goles de notícias do jornal impresso. É preciso usar muito bem o resto da manhã para uma lista invejável de afazeres domésticos e profissionais.
Não se trata, em hipótese alguma, da manhã de uma louca que não sabe usar seu tempo, dosar suas atividades ou que deseja ser chamada de Super Mulher. A Márcia, que assina esse texto, é mulher privilegiada. Eu conseguirei utilizar a sobra da manhã para olhar o resto dos jornais na Internet, escrever alguma coisa, olhar o material escolar e preparar o lanche da filha para o colégio e cozinhar um almoço que só não é melhor delimitado pelas minhas precárias condições culinárias. Certamente, não engrosso a lista das excluídas sociais, das analfabetas, das violentadas, das sem emprego, sem vontade, sem esperança, quase sem vida, mas que dão à luz novas vidas.
Apenas mais um rosto na multidão feminina do Brasil que ainda persegue a igualdade de direitos e o fim da discriminação entre homens e mulheres. Desde o dia 8 de março de 1857, em Nova Iorque, quando operárias morreram queimadas na luta pelos seus direitos, e a data ficou, posteriormente, instituída como o Dia Internacional da Mulher, o sexo frágil nunca mais fugiu da luta. Marias, Reginas, Leilas, Clarices e outras mais, lutaram pelo direito ao voto, pela creche no local de trabalho ou então pelo subsídio do empregador, pelos direitos trabalhistas da maternidade. Em blocos ou separadas, brigaram pelo direito de ter direito.
Muito para nós é tão pouco. Pouco, não queremos mais. E o motivo ? Se com pouco já avançamos, vamos aproveitar o início do século para mudar de vez as estatísticas. Agora, com muito. Hoje, 2/3 dos analfabetos do mundo são mulheres, que com as crianças, somam 80% dos refugiados. De 1,2 bilhão do contingente no planeta que vive abaixo da linha de pobreza, 70% são mulheres. No Brasil, uma mulher é vítima de violência, geralmente, doméstica, a cada 15 segundos. E se cala. Para sempre. Normalmente o agressor é o próprio companheiro, que após praticar a violência dorme em paz.
A Rute, que desce apressada o Morro da Cruz para deixar os moleques na casa da vizinha, pegar o ônibus lotado e atravessar a cidade para fazer faxina na casa de gente rica e juntar uns trocados para a semana, não está preocupada com as manchas roxas que denunciam no seu corpo a violência sofrida na noite anterior. Menos afortunada do que eu, Rute tem pressa e o despertador dela toca muito cedo. No inverno, ainda é escuro quando essa mulher tira os filhos do casebre. O companheiro, ultimamente, desempregado, passa o dia dormindo em casa. Rute, que ainda lava roupa para ganhar mais dinheiro. E sabem como é, fica com pena de mandar o agressor vazar.
De noite, às vezes, Rute ainda estremece e não sabe o que lhe dá por dentro que não devia, que é feito uma aguardente que não sacia, que é feito estar doente de uma folia, quando as mãos do companheiro começam com carícias nas suas coxas e percorrem caminhos do seu corpo que vão amolecendo. E a morena bonita de olhar amendoado não rejeita os carinhos do marido, namorado ou sei lá o quê. Enquanto se oferece na cama, despudorada, semi-nua, perfume de lavanda barato, porque naquele momento ela tem o direito de querer sexo, esquece o agressor e o mundo lá fora que lhe faz tão infeliz.
No intervalo da manhã cronometrada de Márcia e da noite sensual e quente de Rute, outras tantas mulheres, como fazem todos os dias do ano, ocuparam o turno da tarde com a segunda jornada de trabalho ou será terceira ? Márcia, depois do almoço e de lavar correndo a louça, despachar, literalmente a filha no colégio, caminha até a redação do jornal, onde pautas quentinhas lhe aguardam. Se sobrar tempo, no final do dia, antes de pegar a Gabriela, quer pintar os cabelos e, em casa, fazer uns minutos de esteira. Ops, tem que pensar na comida de amanhã e bilhete do professor da agenda da fila. É preciso conquistar bem mais direitos.
(*) márcia fernanda peçanha martins

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05 março, 2009

A noite da lua (*)

De uma cor tão branca
e forma redonda,
no céu resplandecia
a lua toda cheia.
Com a noite na retranca
a nuvem fez ronda,
em toda astronomia
feito uma sereia.

De braço com a estrela
ficou toda nervosa
à espera dos astros
chamados para a festa.
E para então entretê-la
fez-se toda charmosa
carregando candelabros
e cantando uma seresta.

Quando se achou linda,
tal guria bailarina
ou mulher apaixonada
ocupou todo o céu.
E nada rivalizou ainda
com o ato da menina
que se quedou paralisada
como lua de papel.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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A voz enrustida do preconceito (*)

Preconceito e discriminação são palavras que jamais deveriam entrar na nossa casa, mesmo que pela porta de trás, sem nenhum convite. Percorrer os enigmáticos caminhos do nosso cérebro, nem pensar. Nos dias e noites de 2009 ou mesmo em séculos passados, em que a ignorância e a intolerância nasceram e resistem bravamente, os termos só deveriam ocupar as páginas dos dicionários, por obrigação. Mas, o olhar reticente sobre os que escolheram uma opção sexual diferente da nossa, sobre os que têm fome, os que não frequentaram as escolas e não tiveram escolhas, ainda se acusa em diferentes locais.
Disposta a espantar a monotonia e todas as suas companhias, depois de um sábado quente e melancólico de faxina no apartamento e na alma, resolvi que o melhor antídoto era a sétima arte. E feliz da vida pela determinação, rumei em direção a um shopping de Porto Alegre para a minha sessão de cinema das 19h e alguns minutos. Na platéia que assistia ao filme “Milk – A voz da igualdade”, que deu ao ator americano Sean Penn o Oscar de melhor ator pela sua excelente e irretocável atuação, todos pareciam, numa primeira e superficial visão panorâmica, despidos do preconceito e da discriminação.
Mas, como as aparências enganam aos que odeiam e aos que amam, a minha impressão inicial perdeu, um pouco, a consistência, com comentários sussurados nos corredores feitos por criaturas que, como epidemias, propagam o preconceito, travestidos de seres engajados política e socialmente. Imagina-se que todos os espectadores conhecessem a história do filme, que retrata a vida particular e política de Harvey Milk, nascido em 22 de maio de 1930, primeiro homossexual assumido eleito para um cargo público na Califórnia, como membro do conselho de supervisores de San Francisco.
Se carregavam algum tipo de preconceito não deveriam escolher este filme ou então aguardar para emitir os seus conceitos errados, ultrapassados e bobagens entre quatro paredes ou ambientes fechados. Não após enxergar como o preconceito mata, mutila e desfigura. Não depois de perceber que, às vezes, atrás de políticos engravatados e de seus eleitores, esconde-se a escória de uma sociedade conservadora e radical. A hipocrisia desta gente deixou escapar que parte considerável da platéia, naquela sessão, era formada de GLS (gays, lésbicas e bissexuais, assumidos ou enrustidos.
Mesmo após Sean Penn, que interpreta Milk (1930-1978), encarnar o ativista gay, assassinado em 1978, com apenas um ano de experiência legislativa oficial, algumas pessoas representavam o preconceito contra os integrantes de núcleos de GLS. E com atuações que também poderiam render o Oscar. Não sei de qual categoria. Ou não compreenderam nada do que viram. Ou não quiseram entender a história. Ou preferem continuar com os olhos cegos. E tomara não tenham filhos para não repassar aos rebentos o germe da injustiça social, sexual, política e tudo o mais.Talvez o Sean Penn tenha razão ao fazer campanha para que o Estado da Califórnia oficialize um dia em homenagem a Milk, apoiando o projeto de lei de um senador. Idéia semelhante já vetada, ano passado, pelo governador Schwarzenegger, alegando que o ativista gay deveria ser honrado apenas em San Francisco e não em todo o Estado. E como pragas são facilmente espalhadas, o dublador de Sean Penn no Brasil, se recusou a fazer a voz do ator no filme. O pastor evangélico Marco Ribeiro disse que não quer sua voz envolvida com outras questões, assim como não faz determinados comerciais.
(*) márcia fernanda peçanha martins

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Agora (*)


O teu lado na cama
assim tão arrumado
é um sinal de ruptura.
De listas o teu pijama
agora todo dobrado
parece a abreviatura
do caso que se desfez
do beijo que não se deu
do afago que se despediu.
Ficou nossa estupidez
de rir do que se perdeu
e de quem se desuniu.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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