Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

25 agosto, 2009

Poesia na ponta do lápis (*)(**)


Uma poesia ganha forma
com a dança de um lápis
sobre uma folha de papel.
Adapta-se a toda reforma
com espírito de aprendiz
aglutina rima de beleléu.
Escreve versos sem norma
com azul escuro ou aniz
mas capricha no tom pastel.
Depois deste desembaraço,
logo é a nova convidada
do proprietário do espaço.
Promete vir de entrelaço
encabulada e apadrinhada
pelos Poetas Del Mundo


(*) márcia fernanda peçanha martins
(**) escrito especialmente para o 2º Encontro dos Poetas Del Mundo no Lápis Café

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23 agosto, 2009

Clima de chuvas e trovoadas (*)

Desmarquem seus compromissos, adiem as possibilidades de romances, cancelem os namoros recentes, os mais duradouros conhecem e não se assustam com as pantufas. No máximo, um beijo roubado. E providencie a entrega pela locadora de um pacote de DVDs para, literalmente, passar o mau tempo. Pipoca, vinho e uma comida quentinha também são aconselháveis. Serão, no mínimo, dois dias de chuvas e trovoadas. Se alguém levasse a sério as previsões metereológicas, certamente, teria seguido à risca as orientações acima. Eu, nem que me avisassem que alguém havia me visto na esquina, arrastava o pé de casa para me procurar.

O final de semana de 8 e 9 de agosto foi de chuvas intensas. E a semana começou sob o domínio dos ventos gelados soprando do quadrante sul. Antes de continuar, confessarei um crime ou sadismo feio para uma pessoa do bem. Sempre que pegava o plantão no Correio do Povo no domingo à tarde, sabia que a chefe Jurema Josefa me mandaria ver a previsão do tempo. Nos primeiros plantões, enchia o texto de esparsos, de quadrantes e velocidade do vento. Com o espaço do Correio reduzido para tanta sabedoria, adotei a vingança de sair na rua olhando com superioridade por antever o que seria do Planeta em segundos, ora.

Neste clima de pancadas de chuva, fiquei hibernando em casa, ouvindo uns CDs que ganhara de aniversário, concluindo a leitura do livro “Leite Derramado” do meu amante, o Chico Buarque (me amarrem que sou louca) e até, dormindo em demasia por conta de uma gripe analfabeta que me atingiu. Pilotei o fogão, porque domingo que é domingo precisa ter sua dose de tragédia, e se fosse para matar alguém aquela meleca que chamei de comida, a vítima seria eu, porque Gabriela passava o domingo com o pai dela. A trovoada maior ocorreu quando o meu tricolor resolveu perder para o Barueri.

Vivendo esperando dias melhores, dias de paz, dias a mais, quase desisti ao ler numa comunidade do Orkut o depoimento do tio de uma jovem de 24 anos que desaparecera na manhã de sábado. Pensei com meus botões, onde estamos meu Deus, que não se pode mais sair de casa de manhã cedo com a certeza de que se vai voltar. E, ainda, sem conhecer os detalhes do drama da menina que queria apenas aprender a dirigir e se encaminhava para a autoescola, a alguns metros de sua casa, no sábado pela manhã, pedi a todos os santos que sempre protejam e iluminem a minha Gabriela Martins Trezzi.

E ao percorrer o centro atrás de um remédio milagroso para a minha gripe, na segunda-feira, amaldiçoei o segundo em que decidi colocar o pé na rua. Desviando das sombrinhas histéricas e dos sobretudos encharcados (porque deveria existir um manual de etiqueta para dias chuvosos), encontrei os índios que habitam a Rua dos Andradas. De esquina em esquina, os pequenos índios se aglomeravam e cantavam algo que eles chamam de música. E, num ato contínuo lembrei-me do Nei Lisboa do Bom fim cantando “Vinde as mim as criancinhas do Nordeste, que eu ensino a fome a receber cachê”.

Voltei para o meu apartamento, com a porta para arrumar, a cortina para colocar, o interfone para ver porque não fala, os credores me cobrando, e um novo sorteio de contas a pagar, e me senti completamente feliz, estupidamente feliz, loucamente feliz. Porque a chuva continuava a bater na minha janela, eu mesmo combalida pela gripe ainda tinha forças para cuidar de problemas domésticos e a minha filha estava inteirinha lá para me abraçar. E dormi agradecendo a Deus ou sei lá que nome tem pelo que ainda não me tiraram da vida.

(*) márcia fernanda peçanha martins (publicado no site coletiva.net)

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Cronograma do fim (*)

Arruma tudo devagar
Esvazia as prateleiras
E limpa o lado no armário.
Sem nenhum atropelo
Empilha tuas besteiras
Desaparece do calendário.

Não quero explicação
Poupe-me das asneiras
E da briga com o horário.
Cansei de não me amar
Ser alvo de brincadeiras
Dispenso teu comentário.

Prometo que vou mudar
Não tomar mais saideiras
Apagar teu nome do diário.
Mas o meu caos interno
Ainda assume as dianteiras
E enfeita o meu cenário

márcia fernanda peçanha martins

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17 agosto, 2009

Balé do sexo (*)


Os braços se entrelaçando
no balé de ternura
ao som do afeto.
As pernas se movimentando
na altura da cintura
viradas pro teto.
Os joelhos vão se dobrando
seduzidos pela diabrura
do ato secreto.
Os dedos se desgovernando
parceiros da aventura
no mesmo dialeto.
E as bocas vão se inundando
de gosto de travessura
do tesão completo.
E as mãos se nocauteando
unem-se na fartura
do sexo indiscreto.
Os corpos estão arfando
parecem uma pintura
um só objeto.
A respiração vai cansando
na mesma temperatura
do homem inquieto.
O suor quente escorrendo
de qualquer criatura
do cenário concreto.
E o ritual se debulhando
volta à forma pura
do início do trajeto.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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12 agosto, 2009

De Porto Alegre para o Mundo

Poetas del Mundo traçam
metas para Porto Alegre

O Movimento Poetas del Mundo, presente hoje em 119 países, falado em 18 idiomas e que conta, no Brasil, com 2.700 poetas, intensifica a sua atuação no País. Em Porto Alegre, para traçar metas de fortalecimento do grupo, reuniram-se, na noite de 4 de agosto, representantes do Consulado na capital gaúcha. O local do encontro, que teve a participação de mais de 15 poetas e presenças internacional do Poetas del Mundo, foi a Livraria Lápis, no Shopping Total, onde além de discutir futuras ações, os poetas brindaram os presentes com declamações de poesias.
Da reunião, definiu-se um encontro mensal do Consulado de Porto Alegre, que ganhou o nome de “Poesia Poetas Del Mundo”, e ocorrerá, sempre na última terça-feira do mês, a partir das 18h, no Lápis Café. O próximo encontro será realizado no dia 25 de agosto. A Embaixadora pela Paz pelo Brasil dos Poetas Del Mundo, Delasnieve Dáspet, do Mato Grosso do Sul, convocou os poetas a intensificar os trabalhos. “O momento é de fortalecer o movimento, buscar maior integração, união e ser mais propositivo”, afirmou.

Delasnieve coordenou a delegação que esteve em Porto Alegre, formada pela jornalista da Revista Caras, em Paris, Delegada da Academia Francesa de Letras e Artes da França e Embaixadora pela França dos Poetas del Mundo, Diva Pavesi; e pelo gaúcho, que hoje vive na Suécia, exilado política da época da ditadura, Guilem Rodrigues da Silva. Delasnieve destacou que os membros do Poetas del Mundo precisam sempre trabalhar pela solidariedade e pela paz. “A poesia é o meio”.
Diva, produtora cultural paulista, naturalizada francesa e que vive na Europa há 22 anos, tornando-se uma das principais divulgadoras da cultura brasileira em terras francesas, surpreendeu com a visão adquirida de Porto Alegre. “Tenho uma visão européia da arte e da cultura e posso dizer que Porto Alegre é uma das cidades mais européias que já conheci”, disse a presidente da ONG Cultural franco-brasileira DIVINE PRODUCTIONS INTERNATIONAL. “De alma e do coração, aqui vi o por do sol mais belo do mundo”, confidenciou.
Os visitantes da Delegação e os Poetas Del Mundo foram recebidos pelo Cônsul Nadir Silveira Dias, do Rio Grande do Sul, pela Consulesa de Porto Alegre, Soninha Porto e pela Consulesa da Zona Sul, Maria Clara Segobia.
Márcia Martins
Relações Públicas do Poetas Del Mundo em Porto Alegre
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=4382

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Meu Super-Herói (*)


Hoje, quando embalo, nas tardes de sábado, minha neta torta, a pequena Lohana, filha da sobrinha e afilhada Camila, abro a porta da memória em que se guarda as recordações mais lindas e pueris da infância. E sem nenhuma resistência vejo filmes em preto e branco, alimento lembranças que parecem vagas, mas que ocupam ritos de passagem de minha vida de criança e do início da adolescência. Uma sala imensa no apartamento da Rua Fernando Machado, onde morei até perto dos nove anos. Mais tarde, um espaço menor na Rua Doutor Mário Totta, na época totalmente desbravada, e que foi meu abrigo até os 21 anos aproximadamente.

Nas duas salas, com decorações diferentes e localizações extremas: os mesmos protagonistas. Ouso dizer que era um elenco de primeira. Uma família de seis pessoas (um casal e suas duas filhas, mais velhas, e dois filhos, caçulas). No ambiente preferido pela família, porque a televisão tinha posição de destaque nas salas, a vida da família era passada a limpo. Os problemas no trabalho do pai, as dificuldades da mãe com as lides da casa, as brigas das gurias com as coleguinhas, os temas que os guris tinham que fazer, muitas vezes ajudados pela coleção das Enciclopédias Barsa e Conhecer (sim, nada de internet e Google).

As lembranças ficam mais consistentes com o passeio frenético do meu pai. Sua figura, às vezes, taciturna e outras amável e carinhosa. Os passos fortes ou mansos, para não acordar ninguém quando chegava tarde do jornal. As broncas que ele me passava sempre que eu lhe desafiava, e eu fazia com freqüência, com trema e teima. Então, tudo fica mais nítido no meu álbum de recordações. No ambiente da Fernando Machado, eu me enxergo empurrando o carrinho com meu irmão mais novo, o Dedé, Dédi ou Luli, que não está mais entre nós, e meu pai olhando com admiração o meu carinho pelo recém-nascido. No final, pai e irmão dormiam.

Por longo tempo, fui uma espécie de babá dos meus irmãos menores. E, não sei se pelo enorme amor fraternal que sentia pelos dois, ou se pela ausência das tecnologias que hoje seduzem as crianças e os adolescentes, gostava da tarefa. Uma consequência foi o adiamento da gravidez de minha filha Gabriela Martins Trezzi para depois dos 30 anos. E outra, foi o apelido que ganhei dos guris, Bá (de Babá), abandonado quando todos compreenderam melhor a situação. A mais influente, no entanto, foi certa idolatria cega nutrida pelo meu pai, e que resultou, depois no meu afastamento quando descobri falhas no meu super-herói.

Lá na casa do bairro Tristeza, semeio reminiscências de um tempo em que aprendi, definitivamente, a admirar meu pai, como profissional e como chefe de uma família, daquelas consideradas normais, com seus preferidos, seus atritos e suas confraternizações. É naquele espaço que vejo meu pai vibrando quando passei no vestibular, pilotando a churrasqueira nos finais de semana, tentando me ensinar a dirigir, num fuca vermelho 69, escondendo no pátio a minha Calói que ganhei de Natal, comendo laranja no sol depois do almoço. Nestes pequenos acontecimentos e em outros que não citei, o meu pai segurava minha mão ou estava ao meu lado.

Meu pai, que não é um super-herói, não nos moldes tradicionais, que sofreu um tempo com meu afastamento leviano e irreparável, que soube, diversas vezes, acomodar minhas aflições no seu colo, e abriu seus braços enormes para me receber mais tarde, já com minha filha adulta, é um ser humano que amo demais. Ainda vive, reside numa praia com uma filha pequena, minha irmã de 12 anos. E sempre viverá nas minhas lembranças, nos bisnetos dele que embalarei, em todo a ternura que perfuma os meus dias.
(*) márcia fernanda peçanha martins, publicado no site coletiva.net

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Sonho de doer (*)


Abraça meu corpo
com toda tua força
e me faça esquecer
Daquela menina moça
que cheia de prosa
não parou de crescer
Depois, me dá o ombro
tão amigo e confortável
que me fez adormecer
E quando eu acordar
de um sonho desagradável
me ajuda a esquecer


(*) márcia fernanda peçanha martins

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Noites de Insônia (*)


Uma noite destas qualquer, em que novamente nem os comprimidos verdinhos, amarelinhos e rosinhas conseguiram me assegurar um sono adequado e duradouro como todos os mortais, um filme antigo que passava na TV fechada me prendeu na telinha. Seria a solução da minha insônia, pensei, agradecendo antecipadamente ao Santo Protetor das Noites Bem Dormidas. Perfeitamente acomodada no sofá marrom que já foi bege, tapada com um edredom e tomando um chazinho de camomila, começou a sessão “vale a pena ver de novo”. E o dia já clareava, a filha acordava para o colégio e eu, acordada, inchada de chorar.

Sabem aquela história do feitiço virar contra o próprio feiticeiro (a)? Pois, o tal filme não me trouxe o sono merecido. Ao contrário, gerou uma nova película (gostaram?) na minha memória, do tipo “valer a pena ver de novo outra vez”. E quem disse que seria possível desligar a minha TV interna para dormir depois? Nem pagando! Para não escrever o que pensei e ser deselegante com os meus 20 leitores. Não adiantou o remédio eletrônico e já não poderia aumentar a dose dos calmantes. A saída foi apelar para os cafés, um banho revigorante, um corretivo para disfarçar as olheiras e seguir para a reunião no sindicato.

Mas o aspecto de cansaço não me abandonou o resto da jornada. Afinal, depois que desliguei a televisão de verdade, fugiu o sono, o sossego, a certeza e a tranquilidade. Instigada pelas protagonistas do filme de 1900 e 80 e poucos, ao lembrarem que existe um elo entre mãe e filha que nada é capaz de camuflar ou sepultar, relembrei tantos momentos decisivos que tive com a minha rebenta Gabriela Martins Trezzi e não contive as lágrimas. Nas cenas da memória, a primeira palavra, o caminhar ao completar um ano, a creche, o meu irmão vestido de Papai Noel, os indícios de autonomia. Ai, meu Deus.

Porque é que tem que ser assim? Passar tudo tão rápido e a gente só perceber que o tempo é traiçoeiro depois que ele já se fez pretérito e não permite mais que se volte atrás? Deveria acender uma luz vermelha na testa da mãe toda vez que fosse auspicioso congelar uma travessura, uma molecagem, um sorriso ou uma descoberta dos filhos pequenos. Para mais tarde, quando eles somem na balada, no cinema, no shopping, no turno inverso ou na gingana, você pudesse apenas buscar nas prateleiras aquele momento do passado.

Hoje, preciso me acostumar com o colega (?) que telefona e rouba minutos da noite da Gabriela. Ser atenciosa com a amiga que lhe exige de 10 em 10 minutos. Solicitar um encaixa na sua agenda de final de semana. Encaminhar um projeto de programa para as duas, nem necessita de dois dias, pode ser só um sábado. Tá bom, eu me rendo, serve parte do sábado. E rezar, baixinho, para que ela nunca fique pesada (leia-se aqui tentada para práticas do mal, drogas, bebidas e o escambau). Não sou uma mãe caretona, mas espero que ela tenha inteligência para viver a sua adolescência com tudo na medida certa.

E o filme, você deve estar se perguntando, meu caro e assíduo leitor? Pois, ele falava destas pequenas bobagens que deixamos escapar, das inúmeras vezes em que não declaramos o nosso amor, intenso ou não, das divergências das mães com as filhas e do seu umbilical relacionamento. O filme reforçava como é importante aproveitar os momentos de ternura, de trocas, de afetos. E, no final, mostrava como são vazias, tristes e inúteis as pessoas que dispensam estes carinhos. Ah, vai me dizer se uma manteiga derretida como eu seria capaz de conter as lágrimas. Mais remédios e chás e incensos para dormir!

(*) márcia fernanda peçanha martins, publicado no site coletiva.net

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06 agosto, 2009

A vó do meu jardim (*)


Naquela mesa enorme
de formato retangular,
os domingos eram assim.
Tudo sempre conforme
os ensinamentos da avó,
como mandava o folhetim.
Cada neto dava um informe
detalhado da sua semana
e exibia as notas do boletim.
Com a calma dos experientes
e os escassos cabelos brancos
falava das notícias do pasquim.
Depois, dominando o ambiente,
balançando fortes os tamancos
roubava um pedaço do pudim.
À tarde, a família no carteado
espremida na imensa mesa
sentia-lhe o aroma de jasmim.
No final, neto agitado e mimado
demonstrava a sua braveza
pelo programa ter seu fim.
Só sei que num melancólico feriado
entre sons de soluços e rezas
virou flor no meu jardim.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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