Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

29 setembro, 2009

Caçador (*)

Acarinhei a noite
para deitar contigo
e me fartar de amor
Enlaçei num açoite
todo o meu desejo
como fosse uma flor
Foi só um pernoite
para brincar de paixão
e te fazer caçador

(*) márcia fernanda peçanha martins

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As primaveras (*)

As janelas da minha vida
deixam entrar os perfumes
do cravo, da rosa, da violeta
e da encabulada margarida
com as pétalas dos ciúmes

Ilumina cedo a minha sala
um raio de sol abrangente
e invade todos meus aposentos
refletindo-se na mandala
a sua energia efervescente

Pede passagem a primavera
convidando meu corpo e alma
ao passeio e a abandonar o casulo
e encerrar de vez a espera
que me enlouqueceu a calma

(*) márcia fernanda peçanha martins

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15 setembro, 2009

Sina de amor (*)

Mesmo que o sol
Nunca mais apareça
E tudo seja escuro
Ainda te amarei
Na festa de Natal
Não precisa promessa
Cartão ou presente
Ainda te amarei
Embaixo da chuva
Fugindo com pressa
Dos loucos na rua
Ainda te amarei
E se muito duvidares
Devolvo-te depressa
O anel e a gargantilha
E ainda te amarei
Daqui a muitos anos
Fixado na cabeça
Encontros e desencontros
Mas ainda te amarei


(*) márcia fernanda peçanha martins

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O babado do You Tube (*)

A maior vergonha patriótica do Brasil que sobrevive e é feliz sempre foi a confusão que a grande maioria dos brasileiros faz quando necessita cantar o hino nacional. As margens plácidas do Ipiranga, que em 1822 já não se assustaram quando Dom Pedro I, gritou em brado retumbante, continuam calmas e apesar do tempo impiedoso, resistem à memória. Talvez nem tão despoluídas. E no começo da execução do hino nacional, todos entoam corretamente as primeiras estrofes. Até que muita gente movimenta apenas os lábios quando não sabe se é o Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, ou o Brasil de amor eterno seja símbolo.

Nós, jovens há mais tempo, talvez de tanto ler a letra impressa do hino nacional nas contracapas dos cadernos, possamos dizer que erramos menos. Ah, tá bom! E os jogadores de futebol, todos enfileirados, nas partidas da Seleção, que só mexem o maxilar ou desviam da câmera na hora fatal? Não adianta. Sempre há um tropeço. A letra do hino, de autoria de Joaquim Osório Duque Estrada (Márcia também é cultura!), é linda, resplandecente e ostenta uma lista de palavras, cujo significado nem todos conhecem.

Tempo para aprender a letra, debulhar o seu significado, e saber onde é um raio vívido ou de amor eterno, todos brasileiros com mais de seis ou sete anos, tiveram e ainda tem. Desde 1º de setembro de 1971, quando se tornou oficial, é executado em sessões cívicas, eventos esportivos e demais cerimônias de cunho patriótico. É um hino fúlgido, formoso e idolatrado. Nem todos estas qualidades, no entanto, foram suficientes para que a cantora Vanusa, que gravou sucessos do desaparecido Belchior, na década de 70, um dos ícones da Jovem Guarda, errasse, da forma mais atrapalhada do mundo, a letra do hino.

Assim como Vanusa liderava o hit na década de 70, com suas músicas melosas, a versão desastrada que fez para o hino nacional, recheada de gafes, durante um evento promovido pela Assembléia Legislativa de São Paulo, em março, é o “babado” do momento na internet. No You Tube, não só ele tem sido um dos mais acessados, como já propiciou brincadeiras mostrando o professor da cantora, que erra mais do que a musa loira, e na rede, a explicação dela para os pequenos errinhos, atribuindo a uma automedicação para labirintite, beiram o limite do bom senso.

Se alguém é contratado para uma aparição pública e não se sente em condições de manter a apresentação, deve evitar o fiasco. Ao contrário, Vanusa, segundo notícia no portal Terra, link Divertimento, diz que está muito triste com a “repercução” do caso e que, em 40 anos de carreira, nunca passou por situação semelhante. Para ela, trocar, na quinta estrofe do hino, "és belo, és forte, impávido colosso", pela estrofe anterior "és belo, és forte, és risonho e límpido", foi um erro que não deveria comprometer a apresentação toda. Completamente fora do ritmo, ela insiste e segue trocando estrofes.

Depois disso, achar que o Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, de amor e esperança à terra desce, pode ter o mesmo significado que de amor eterno seja símbolo o lábaro que ostentas estrelado, é somente um detalhe. Eu erro, tu erras, ele erra. Mas, alguém contratado pelo portal Terra escrever repercução desta maneira, exigiria uma repercussão maior. E depois, não querem diploma.
(*) márcia fernanda peçanha martins

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07 setembro, 2009

Entrega (*)



A mão escorrega
provoca
o prazer.
O tremor não nega
a entrega
a se fazer

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Lohana nos meus braços (*)

Hoje, não vou escrever sobre dissabores e pequenas mágoas. Não! Disciplinarei meus dedos para que as teclas não se sintam donas de si e falem do diploma de jornalista, roubado pelos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Nem dos seguidos atos de truculência cometidos pela Brigada Militar no novo jeito de governar. Nem da covardia daqueles que escondem o nome do assassino do sem-terra, morto na desocupação da Fazenda Southall, no dia 21 de agosto, em São Gabriel. Nada de salário menor do que o mês, de preocupações com a minha filha adolescente, do meu time que não ganha fora de casa.
Para não dizer que não falo de flores, divido com você, meu leitor nauta, neste espaço, o perfume de rosas, cravos, jasmins e outros, que já invadem o meu apartamento para receber a primavera. E sinto, antecipadamente, os cheiros das flores, ainda imaginárias, mas que já exalam gotas de ternura e respingam harmonia na minha vida. Neste cenário de quase primavera, mas sob um verão de 30 e tantos graus no domingo à tarde, reunindo a família para comemorar os 24 anos do meu sobrinho e afilhado Rafael, trabalhador, estudante, que se vira por conta própria, cheio de projetos, que recebi um novo estímulo de vida.
Após o almoço, no pit stop que fizemos na casa da minha mãe para um cafezinho, praticamente todos já haviam segurado a pequena Lohana, brindando também os seus quatro meses naquele dia. Pois, a Lohana, filha da Camila, irmã do Rafael, que seria minha sobrinha-neta, não fosse eu adotá-la como neta, ainda não experimentara meu colo naquele dia. Chegara, portanto, a vez da vó Márcia. E com a Lohana acomodando seu pequeno rosto bochechudo no meu ombro, com os olhinhos acompanhando qualquer quadro, enfeite e móbile ao seu alcance, iniciei o trajeto de um lado a outro do corredor, o ir e vir entre os quartos.
Com a mesma desafinação que fazia desmaiar de sono e enjoo os meus irmãos menores, o Rafael e a Camila, e a filha Gabriela, entoei a velha canção de ninar. Passados quase 15 anos do nascimento da Gabriela, tive a impressão de que nunca deixei de cantarolar “se essa rua fosse minha, eu mandava ladrilhar com pedrinhas de brilhante, só prá ver meu bem passar”. De trás para frente, forçando o refrão, pulando estrofes, embalei Lohana nos meus braços. Abaixando o tom de voz, naquele estágio que só as mães alcançam e indica a rendição do rebento. E dentro do bosque que se chama solidão, as palavras calando, sumindo....
Assim, ao chegar o entardecer, acalantando a filha de minha sobrinha, deixei o pranto correr, e sussurando pedi que o mundo fique melhor, que todos possam ter educação, habitação e saúde, que ela conheça um Planeta mais verde, um País mais justo e um universo mais solidário. Exatamente como eu fazia com a mãe de Lohana, a Camila no colo, a minha pequenininha que hoje é uma mãe de família. Um filme com rodízio de personagens. Não sei se contaminada pelo cheiro inesquecível de inocência que Lohana emana ou se pelo aroma imaginário da primavera, passei o resto da semana em estado de graça.

Nada se compara ao milagre da vida. Nada é tão revigorante como rever o passado assim tão nítido. Nada como um pedaço de ser no nosso colo para nos fazer esquecer da inflação, da violência, do emprego, da conta e de todo o mundo lá fora.
(*) márcia fernanda peçanha martins

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