Blog da Marcinha

Ao postar emoções, medos, sensações e utopias aqui, através de fotos, pensamentos, crônicas, artigos e poesias, entrego a vocês um pedaço enorme do meu coração, por vezes ferido, outras alerta ou contente. Use com moderação!

27 junho, 2020

Saudades (*)


Mãe, minha e de mais quatro filhos,
teu nome ainda ecoa pela casa,
tua presença a emanar brilhos
e os olhos a varar a madrugada.

Os chinelos arrastam no assoalho,
é a mãe que vai medir a febre do menor.
E já sufoca o filho de tanto agasalho,
antes de saber se não é um caso pior.

Toda a noite, antes de no sono pegar,
sem fazer barulho, confere o ronco dos rebentos.
Cobre a mais velha que não gosta de se tapar
e reza sobre cada leito pedindo paz e alento.

Deita no travesseiro e não sossega a cabeça,
pensa na comida, no super, tanto compromisso.
Vencida pelo sono, a mãe é a mais pura beleza,
quando deixa de pensar naquilo, no outro e nisso.

O tempo de descanso é passageiro. Poucas horas.
O relógio desperta histérico e a rotina se inicia.
Café corrido, lanche na mochila, abraços sem demora.
A mãe sabe que o dia é mais um que principia


(*) márcia fernanda peçanha martins

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26 junho, 2020

Colo (*)




No teu colo eu encontro
o afeto, o cafuné e o abrigo
para acalmar todos medos
e acalentar meus segredos.
Nele é que sei me acomodar
e fugir de qualquer perigo
aliviar o nível de ansiedade
e enfeitar minha realidade.
Ele é a parte do teu corpo
onde de tudo eu me desligo
para nadar nas incertezas
e afugentar as tristezas.
Nele sou rainha e plebeia
às vezes paro e outras sigo
desenhando dias do futuro
e noites em que me aventuro.
No teu colo eu me envolvo
entre o novo e o antigo
para renovar as utopias
e anestesiar as agonias.

(*) márcia fernanda peçanha martins




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24 junho, 2020

Jogo de sexo no meu corpo (*)


As tuas mãos fortes e seguras
passeiam pelas minhas entranhas
e, numa mescla de tato e imperícia,
reacendem todas minhas loucuras.
Teus músculos fazem diabruras,
ensaiam compassos e artimanhas
e, inquietos, encostam no meu corpo,
levando meus desejos às alturas.
Os braços desenham miniaturas
em todos espaços que acompanhas
e, como quem não tem expectativa,
apostam num jogo de sexo, doçuras,
ternuras, misturas e aventuras.
No fim, a boca invade as aberturas
e entrego-me aos atos e às manhas
que me entontecem, me enebriam e
fazem estourar todas temperaturas.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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Abraço virtual (*)


Não tenha receio,
nem se afaste de mim,
quero muito te abraçar.
Chegue mais perto,
e se embaralhe assim,
para não mais soltar.
É uma proposta estranha
nesta distância sem fim
com o carinho a se afastar.
Mas faça um esforço
e imagine um botequim
e me enxergue a gargalhar.
Pelo ontem, pelo amanhã
pelo enredo do folhetim
e o amor que posso espalhar.
Ainda que de forma virtual
escancare os seus braços
e de maneira a parecer real
enlace forte e firme o seu corpo.
E de olhos bem fechados
saiba que sou eu a lhe agarrar.
(*) márcia fernanda peçanha martins

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Despedida do tédio (*)


Um tédio invade minha alma

e ocupa os espaços desabitados
sem ao menos ser convidado.
Uma pitada generosa de calma
para conseguir pontos na briga
e frear de vez este infiltrado.
Num assopro firme com a palma
da mão, ele sente o desconforto,
e abandona triste o meu lado.
Por comodismo ou preguiça
nem o acompanho até a porta.
Tédio parte sem despedidas.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Mundo casmurro (*)


Tarde de domingo ensolarada
e observo agitado movimento
na cidade que está adoentada.
Deixo o ar entrar pelas janelas
mas sem dar chance do vírus
protagonizar minhas novelas.
São alguns minutos de ar puro
porque logo abaixo as persianas
e volto para meu mundo casmurro.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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Lembranças (*)

No porta-retrato no armário da sala,
no marcador de páginas no livro,
no perfume esquecido no roupeiro
e em tudo que não coube na tua mala,
aparecem as ternas lembranças.
Dos tempos em que o amor existia,
das músicas que nos embalavam,
dos passeios programados nos feriados,
e de todo afeto e cumplicidade que
estavam presentes quando o amor nascia,
e que hoje são apenas lembranças.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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Nos compartimentos (*)

Uma rajada fria perpassou
arrepiando corpo e pensamentos
que navegaram soltos, dispersos
pelas gavetas e compartimentos
onde tranco desejos perversos.
Mas a fechadura emperrou
e nada revela os comportamentos
acomodados assim submersos
que se vestem de sentimentos
e se escondem controversos.
De repente a chave girou
e foram mostrados atrevimentos,
medos e caprichos tão imersos
alinhavados em arrebatamentos
para descrever em mil versos.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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A chuva do passado (*)

O barulho da chuva batendo na janela
faz renascer sentimentos de melancolia
em que a memória caminha pelo passado
para reviver cenários de felicidade à revelia
de qualquer desejo de rever o que já não é.
Lembranças desenham-se sobre o vidro
e num ato rápido e quem sabe impensado,
com urgência, decido abaixar as persianas
a fim de tentar interromper o desavisado
que insiste e quer invadir meus pensamentos.
Não quero visualizar os retratos de ontem
e não terá nenhum raio, trovão ou tempestade
capaz de reacender o que trago adormecido
e resguardado nas gavetas trancafiadas
para que não machuque meu projeto de futuro.
(*) márcia fernanda peçanha martins

Separação (*)


O portão inteiramente aberto
e o colorido opaco do horizonte
formavam o cenário ideal para
o fim prematuro do relacionamento.
E no lado oposto da calçada
teu corpo partindo tonteante
como quem não quer abandonar
aquela cena, a casa e os momentos.
á dentro, lágrimas, melodias e bebidas
denunciam que ocorreu a separação.

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Vento errante (*)

No silêncio da madrugada
ouço um barulho lá fora
às vezes leve ou em rompantes.
O que seria que na calada
da noite me antecipa a aurora
e até muda o meu semblante?
Não sei. Mas fico apaixonada
pelo que naquela hora 
parece uma brisa, um sopro,
um vento errante e provocante
que me fas renascer iluminada.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Passos de balé

Goles de um vinho encorpado
aguçaram um paladar cabernet
e reviveram o lado ácido da vida.
Do breve flerte com o namorad
ao romance em passos de balé
o ato final foi a cruel despedida.
Nada restou. Ficou infiltrado
nas retinas, nas narinas e em tudo
o indesejável gosto da partida.
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Vozes no silêncio (*)




Há um silêncio perturbador
em todas as peças do apartamento
que até um revoar de inseto
interrompe a paz deste confinamento.
Mas é quando todos dormem
em seus cantos que os pensamentos
gritam e deixam de ser secretos
e espalham medos por divertimento.
E, na paz que invade os sonhos
e na guerra sem fim dos avarentos
somem os anseios, calam as vozes
para invadir pesadelos de vivos e mortos.




(*) márcia fernanda peçanha martins

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Ritual de pandemia (*)


Todo início de manhã

em tempos de pandemia
adoto o mesmo ritual
e refaço mentalmente
trajetos por onde andaria.

A fim de parecer normal

e não uma louca demente
que mescla apatia e euforia
porque não quer se entregar
ao cenário total de desespero.

Por vezes, é possível enganar

e sufocar um pouco a ansiedade.
Mas em outras não recupero
a fé e mergulho na calamidade
que o País inteiro quer apagar.

E ao anoitecer e o dia findar

alcanço uma certa tranquilidade
que tem seu caráter efêmero
uma vez que novo exercício
recomeçará na manhã seguinte.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Advertência (*)

Não se invoque comigo
nem teste minha paciência
posso até parecer calma
mas faço uma advertência:
não tenho nada de santa.
Assumo meu lado bravo
e jogo fora minha coerência
porque nada me segura
abandono toda inocência
e não poupo os desaforos.
Por isso, por benevolência
deixe-me ficar em paz.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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23 junho, 2020

Receita de cura (*)


Um abraço afetuoso para acalentar,

umas palavras simples confortantes,
um quilo de emoções importantes
e meia dúzia de mãos para enlaçar.
Colocar tudo numa tigela e misturar,
suavemente, de maneira cadenciada,
até atingir uma forma mais pesada
e levar ao forno alto para cozinhar.
Quando aparecer o fundo da panela
é só esperar 30 minutos para esfriar,
transferir para um prato e aguardar,
enfeitar com amor e pingos de canela.
Pronta a receita para acalmar e sarar
os corações enfermos e amargurados,
os sentimentos feios e enferrujados
e as dores que insistem em machucar.

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Já sei (*)


Sei onde começa o toque
e onde explode a paixão.
Sei o que levo a reboque
e o que não cabe na mão.
Sei do enredo da novela
e do final do campeonato

Do namoro com cautela
e da promessa do candidato.
Posso falar com exatidão
de todos pecados do mundo.
E do que cala meu coração
quando passeia vagabundo.
E como tenho tanto poder
de pressentir o instante,
só quero mesmo é esquecer
minha história dissonante.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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A nudez de dois corpos (*)


O corpo desprende-se da rigidez
e se entrega aos toques e estímulos
das mãos que sem jeito passeiam
a explorar os sentimentos mais íntimos.

Sem perceber, expulso a timidez
e enrosco-me nas tuas provocações
cedendo aos insistentes carinhos
que me endoidecem e me transtornam.

Sem aceno, transparência ou nitidez
deixo o desejo até então adormecido
espertar, perturbar e incendiar
entregando-se num jogo de devaneio.

Peles eriçadas desvencilham a nudez
que passeia na cama, no cenário, no quarto
para saciar a excitação, acalmar o apetite
que tantas vezes dormiu quase esquecido.

(*) márcia fernanda peçanha martins

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Horário de verão (*)

Se prometes que vais voltar
logo decreto horário de verão
e me pego louca a adiantar
todos os relógios do caminho:
quarto, sala, cozinha e corredor
e os ponteiros do meu coração.
Faço do amanhã o presente
e começo a viver sem futuro
porque já não controlo a mente
que antes passava a me controlar.
Rasgo páginas antigas da agenda
e me ponho a traçar novo rumo.
E antes de ouvir teus passos
cadenciados a bater no corredor
vejo-me aninhada em teu corpo
e seduzida pelos teus abraços.
Porque é só sentir-te mais perto
que só sei viver em pleno amor.


(*) márcia fernanda peçanha martins

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12 junho, 2020

Levemente ácido (*)


Teu beijo deixa um odor
azedo, levemente ácido,
que permanece dias e dias
impregnado na minha boca
e deixando o corpo plácido
à espera de mais e mais.
Eu me visto de santa e louca
para merecer outro beijo
picante e banhado em sais
que me satisfaça o desejo
e me preencha até tua volta
enchendo-me de audácias. 


(*) márcia fernanda peçanha martins

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